O mundo em rede… o mundo das redes. Mas o que estamos fazendo de verdade para construir redes horizontais e fluídas? Voltando ao assunto das Redes no Turismo – o qual Mariana Madureira falou em um artigo recentemente – a pergunta que não cala é: O que estamos praticando tem a ver com nossa crença de que juntos podemos fazer mais uns pelos outros e pelas comunidades que atendemos?
Coisa difícil, né? Entre a crença e a prática parece que existe pelo menos um longo caminho.
Na Raízes, trabalhamos com o conceito de Redes por acreditarmos que é possível construir um mundo novo a partir de processos colaborativos e coletivos. Acreditamos que todos têm algo a contribuir e que todos podem acolher ideias, pensamentos e experiências uns dos outros para atingir um propósito comum.
Podemos contar experiências incríveis, diferentes e enriquecedoras: Projetos Rede Empresarial Caminhos do São Francisco; Rota das Aldeias Rurais de Santo Antão; Redejur; Associação Sabores do Morro; Território Mantiqueira – Associação de Desenvolvimento Integrado; Aliança Bike; Estruturação do Turismo de Base Comunitária em Coqueiro Campo e Campo Buriti; Redes de Governança Turística do Maranhão. Cada uma com um propósito e com muitas lições aprendidas.
Entretanto, sabemos que estamos imersos em um novo conceito e forma de atuar onde a plataforma deve ser horizontal. O tecido social, leve e coeso. E as conexões, baseadas em relações de confiança que potencializam a alegria de construir juntos – e não a dependência de uma autoridade ou poder.
Eu penso que aí está o primeiro desafio. Queremos uma rede potente ou uma rede de poder para fazer a diferença em comunidades? Uma rede baseada na soma das diversidades e inteligências ou na desconfiança e na escassez?
Não somos iguais e nunca seremos. E não aprendemos a confiar. Nosso DNA individualista nos desafia todos os dias nos colocando na visão do ser que julga e desconfia se não encontramos eco naquilo que conhecemos e acreditamos ou na forma como agimos.
O mundo a nossa frente, ao contrário, nos mostra a urgência de sermos um coletivo de ideias. Atitudes potentes geram as mudanças e impactos positivos necessários e que desejamos. Ansiamos criar soluções inovadoras para problemas velhos e que causam entraves e distorções nos modelos atuais de desenvolvimento do turismo no Brasil.
Iniciamos há pouco tempo encontros com profissionais do turismo brasileiro para pensar o que podemos fazer juntos para influenciar as mudanças que tanto queremos nesse setor tão cheio de possibilidades. E teremos a oportunidade de apresentar esse movimento em abril aos atores do turismo na WTM, em São Paulo.
Uma nova Rede está se formando e pensando muito coletivamente em como fazer diferente. Com presença e olho no olho, mas também com tecnologias associadas que agilizam encontros e socialização de informações. Sem dependência dos velhos modelos ou do poder instituído.
Esse é um segundo ponto sensível: a dependência do poder seja de que natureza for.
Quantas vezes nos vimos em movimentos ou projetos incríveis, com objetivos importantes e significativos para grupos e comunidades, criando soluções em rede que, enquanto tem um animador ativo, recursos possíveis ou cenário favorável ainda não são capazes de se tornar sustentáveis. Onde estamos errando? Nós, as instituições, os agentes públicos, os grupos em que atuamos?
As experiências que temos tido na Raízes, e não são poucas nesses 10 anos, vem demonstrando uma série de lições aprendidas. Temos a alegria de ver sementes bem plantadas darem frutos em projetos com alto significado para as comunidades e ecossistemas empresariais nos quais atuamos.
Mas muitas reflexões ainda são matéria-prima para criar nossas estratégias e soluções cotidianas com permanência, empoderamento e impacto social para os grupos, coletivos e destinos onde estamos compartilhando um modo inovador de gerar desenvolvimento com sustentabilidade.
Tenho tantas perguntas! E, aliás elas são fundamentais para virarmos o jogo:
- Os propósitos são verdadeiramente compartilhados?
- Os agentes financiadores de projetos (públicos ou privados) querem soluções para sua empresa ou para as comunidades?
- Os grupos de beneficiários querem mudar a chave da dependência para a interdependência? A comunicação do que aprendemos e os resultados estão sendo compartilhados?
- Estamos abertos ao mundo novo e as possibilidades de novas conexões?
- A ativação de redes e a nossa presença como elementos colaboradores temporários têm sido pensadas na construção das soluções para empoderamento das comunidades e seus atores?
Para quem, como eu, cresceu tendo o inconformismo como estímulo, o coletivo como resposta para mudanças reais e a alma brasileira como matéria-prima, encontrar o turismo foi uma alegria e uma possibilidade de achar minhas respostas!
Se o sociólogo Zygmunt Bauman nos deixou como legado a consciência de um mundo líquido onde as relações são cada vez mais momentâneas e fugazes, que saibamos aproveitar aprofundar nossas conexões com verdade, humildade e propósito e possamos expandir nossa potência. Dando vida a velhas perguntas com respostas novas e transformadoras… Em Rede!