Skip to main content

Monitoramento de projetos sociais: por que pouca gente pratica?

Há um ano eu estava voltando de Cabo Verde, na África, onde pela Raízes atuamos no Projeto Rota das Aldeias Rurais de Santo Antão.  Mesmo com nossa atuação concluída, continuamos fazendo o monitoramento e mantendo contato com os empreendedores que participaram do projeto. Criamos um grupo virtual para diálogos com os empreendedores. Uma espécie de canal para enviar informações relevantes e esclarecer dúvidas. E especialmente eu, criei uma rotina na qual trocamos ideias e informações por meio das mídias sociais.

E ao relembrarmos desse período, esse ciclo de um ano que se completa, veio a reflexão:

Por que as empresas, fundações e outras instituições deixam de fazer o monitoramento de seus projetos depois do período de entrega?

 

Essa iniciativa em especial surgiu porque o Ministério do Turismo de Cabo Vede decidiu investir no desenvolvimento de empreendedores nas áreas rurais da ilha de Santo Antão, como parte de suas políticas de diversificação e qualificação do turismo. A “Ilha das Montanhas”, como é conhecida, tem grande potencial por sua beleza e atividades na natureza, mas grandes desafios em termos de estruturação. Neste contexto, o projeto aconteceu para qualificar e apoiar a estruturação dos empreendimentos selecionados, ampliar e inovar a oferta de serviços. E assim, melhorar a experiência de turistas e visitantes.

A etapa realizada pela Raízes Desenvolvimento Sustentável teve como ponto de partida a seleção realizada pelo Ministério (MTIDE) de 30 iniciativas empresariais ou projetos inovadores. Os selecionados passaram por uma formação em Negócios em Turismo Rural. E, numa segunda etapa, estas iniciativas foram contempladas com visitas de Assistência Técnica individuais realizadas por mim e pela consultora em Sustentabilidade Lucila Egydio.

Ou seja, em todo momento – e especialmente nas visitas técnicas – ficamos mais próximas daquelas pessoas, famílias e ideais. Conhecemos a realidade bem específica da região. Conseguimos projetar nossas experiências e conhecimento para potencializar aqueles negócios que estavam por vir,ou melhorar os já existentes.

 

A fluidez dos processos

Foram dois meses in loco e cinco de projeto no total. Recebemos depoimentos como “Agradeço em primeiro lugar o relatório, pois as ideias ficaram mais claras e se deus quiser vou implementar o projeto e, quem sabe um dia tenho a honra de vos receber no Flor de Papaia. Muito obrigada, estarei atenta as vossas recomendações”, de Evlorena Cruz.

Ou ainda: “Com vocês aprendi coisas novas que me ajudaram a melhorar como pessoa e como profissional. Farei de tudo para implementar o projeto. As vossas sugestões farão com que seja um projeto inclusivo e que valorize a minha zona, e ajude na melhoria das condições de vida da minha família”, de Joaquim Neves.

Mas foi graças ao nosso monitoramento, à iniciativa de acompanhar essas pessoas, que ficamos sabendo como o projeto vem se desenvolvendo e como os empreendedores estão se organizando.

Por exemplo, nos dias 24 e 25 de fevereiro, eles participaram do Fórum de Turismo de Natureza, realizado em Porto Novo – o que já mostra uma mudança de postura frente a participação e posicionamento em eventos do gênero.

Acompanhamos também algumas iniciativas coletivas do grupo. No último dia 04, o grupo se reuniu cidade do Paúl onde 17 empreendedores estiverem presentes. Entre os encaminhamentos eles resolveram se associar a Rota Das Aldeias Rurais de Santo Antão na Câmara do Comércio de Santo Antão – que é uma organização como as Associações Comerciais daqui. Essa notícia é muito boa. Reflete que estão avançando com espírito coletivo e compreendendo que a cooperação é o melhor caminho para as soluções que procuram. Outra mudança!

Ficamos sabendo também que os recursos serão liberados pelo Ministério em breve. Por enquanto, alguns empreendedores estão caminhando com recursos próprios. Jorge Rosário, inaugurou a Pousada Rural Ribeira da Cruz, que está tendo ótima procura. Outros empreendimentos também estão evoluindo, como o trapiche de Grogue Beth D’Kinha, do Edson Silva.

Olha o que ele me disse numa das atividades de diálogo orientado:

“Para ser breve eu já investi no meu empreendimento quase 500 contos. Com aquisição do trapiche as visitas triplicaram. Neste momento dos turistas que passam por Paul quase 60 por cento me visita ou mais”.

 

Mas como saberíamos disso não fosse o monitoramento?

Não basta executar. Queremos saber se os resultados pretendidos são alcançados, quais os gargalos, quais as boas práticas! Principalmente quando temos como propósito gerar impacto social nos territórios e suas comunidades e empreendedores.

Acreditamos num impacto ainda maior que pode ser ocasionado por atividades simples, mas metodologicamente organizadas.  E os formatos são variados e customizados para cada grupo atendido. Visitas (quando possível), mensagens de e-mail, reuniões via Skype, diálogos virtuais – em grupo ou individuais. Isso desde que tenhamos clara nossa função e até onde podemos colaborar.

Para a Raízes, o monitoramento é aprendizado. Ele serve de insumo para o que está por vir, para os próximos projetos, para ajustes e inovações. Além de tudo, renova nossa motivação e amor pelo o que fazemos.

Recentemente, por exemplo, estivemos no Vale do Jequitinhonha, conversando e monitorando projetos de geração de renda por meio do artesanato e do turismo comunitário. Iniciativas que trabalhamos há anos.

É o nosso “jeito Raízes de fazer”!