O turismo comunitário ou solidário é um locus de encontro. É assim que muitos na academia e no mercado descrevem as relações que se dão entre visitantes, visitados e tantos outros atores que se envolvem nessas modalidades de turismo. Modalidades sedutoras, diga-se de passagem. Envolve solidariedade, troca, “o outro”.
Mas a rede de atores do turismo de base comunitária no Brasil está aberta ao outro?
Na última semana, estive com uma das pessoas que assumiu a Comissão Transitória da Rede Turisol em 2015. Esse reencontro foi um momento de reflexão sobre redes. E quando o tópico entrou nos meandros da seleção dos participantes, ela sugeriu uma total abertura, pois havíamos, segundo suas palavras, “matado a Rede Turisol na discussão do sexo dos anjos de quem é ou não legítimo como colaborador. Resultado: quem tinha possibilidade de contribuir acabou perdendo a motivação e a Rede travou”.
Essa reflexão veio em ótima hora!
Para contextualizar…
Em 2015, co-lideramos a reativação da Rede Brasileira de Turismo Solidário e Comunitário (Turisol), realizando o II Encontro Nacional. Foi uma aventura e tanto! Valeu a pena por cada um dos parceiros e das mais de 200 pessoas que se envolveram pessoalmente nessa realização. Um dos desdobramentos foi criar uma Comissão Transitória composta por grupos considerados iniciativas legítimas de turismo de base comunitária.
A Comissão deveria se encontrar para criar o Plano de Ação da Rede e para publicar a Carta de Adesão para novas iniciativas interessadas em fazer parte (veja AQUI). Mas isso, infelizmente, não aconteceu.
Fiquei frustrada, claro. Sou entusiasta do turismo comunitário e tenho vários chapéus.
Inclusive: empresária e consultora com a Raízes Desenvolvimento Sustentável; Ongueira como diretora voluntária no Projeto Bagagem; acadêmica como doutoranda no GAPIS; turista de carteirinha (já visitei muitas das iniciativas brasileiras). Mas nenhum desses chapéus é de “iniciativa de TBC”, e, por isso, me coube aguardar os próximos passos.
Acontece que esse rótulo – “iniciativa de TBC” – contestava também a participação de iniciativas emblemáticas (e na minha humilde opinião, fantásticas) como a Pousada Uacari (que nasce de um Instituto de Pesquisa), o Saúde e Alegria (ONG de promoção de saúde, cultura e desenvolvimento de comunidades ribeirinhas) e outros projetos fomentados por ONGs, Universidades ou pelo setor privado. Dentre tão poucas iniciativas comunitárias ativas no turismo e participantes nos debates, quem seria legítimo?
Voltando ao presente
Um ano e meio depois, já em 2017, essa declaração chega nas reflexões do Ano Internacional do Turismo Sustentável e de todas as articulações que se iniciam para ele.
Não, não é tarde e o tom aqui não é de lamentação, pelo contrário. O tom é de constatação! E essa constatação aberta, compartilhada, traz clareza para o percurso que foi trilhado (aquela perguntinha: “onde erramos?”) e libera o caminho para que possamos seguir com novos erros e entraves, mas superando o que nos congelou na última tentativa: o medo do outro.
Que nessa jornada de debates sobre o turismo sustentável #YI2017, turismo comunitário e a sustentabilidade do turismo nas suas mais diferentes formas e modalidades, possamos caminhar mais próximos!
Para isso, fica um apelo pessoal:
- Mais abundância, menos escassez (acredite nos fluxos!)
- Mais amor (por favor), menos medo (o medo congela! Perguntem a Elsa rs)
E, para finalizar, mais, muito mais alteridade! Afinal, temos uma relação de interação e interdependência com o outro ao longo da vida e sempre – mas ainda mais, em especial, ao trabalhar com turismo de base comunitária.
por Mariana Madureira