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O que o Brasil tem a aprender com a Austrália sobre espaços públicos

Por 8 de fevereiro de 2017fevereiro 10th, 2017Artigos

O sol brilha alto! Idosos sentados na praça jogando conversa fora, enquanto crianças rolam e brincam na grama. Logo ao lado, um casal curtindo a vida comendo as frutas da cesta de piquenique. Parece cena de um sábado à tarde, mas não passa das 13h de uma segunda-feira em plena área central de Sydney. Um de seus espaços públicos. Ah, quase esqueci! Acrescente na cena inicial homens e mulheres aproveitando o horário de almoço com os pés descalços na grama.

Deu pra sentir um pouco do que estou falando?

Há 10 meses vivendo a cultura Aussie ainda me pego surpresa com tamanha utilização e apropriação dos espaços públicos. É maravilhoso poder sentar em um banco na praça, deitar na grama, observar os barcos indo e vindo e, não necessariamente, gastar dinheiro para se divertir. São 400 parques espalhados pela cidade. Sydney não dá mole para quem tem fôlego de conhecer pelo menos um espaço público ao ar livre por dia durante um ano.

As possibilidades não param por aí. São festivais ocupando as ruas e praias, cinema ao céu aberto, apresentações culturais em calçadões e caminhadas gratuitas contando a história da cidade.

Não importa em qual subúrbio você mora, sempre haverá um espaço público de lazer próximo a sua casa. Até mesmo construções que serão demolidas acabam recriando a cidade dando vida para mais um parque nascer.

Outros países também investem na qualidade de vida da população com espaços públicos de lazer. Um caso marcante foi o de Seul, na Coréia do Sul, com a construção do parque Cheonggye Stream. A antiga rodovia, que afastou 40 mil residentes e 80 mil empregos, renasceu com a vinda do parque.

Para se ter uma ideia, após sua implementação houve um aumento de 25% no valor médio do metro quadrado, aumentando significativamente as transações do setor imobiliário. Dados obtidos pela publicação “ Vida e morte das Rodovidas Urbanas

São Paulo também conta com iniciativas, muitas vezes vinda da sociedade civil, para criar ambientes mais humanizados. Assim, desaceleram o cotidiano caótico e criam ambientes em que o cidadão pode fortalecer sua relação afetiva com sua própria cidade. É o caso da iniciativa “A Batata Precisa de Você” – movimento autêntico que propõe um canal aberto de diálogo para debater os processos de uma gestão compartilhada entre cidadãos, associações e poder público. Um baita exercício de democracia em escala local, sendo um modo das pessoas se manifestarem de forma inteligente e propositiva para transformar o Largo da Batata em um espaço de estar, com qualidade de convivência – e não apenas de passagem.

Atualmente é visível a mudança de dinâmica e como ela teve seus potenciais evidenciados através de inúmeras atividades e ocupações. Tais como: conversas sobre a memória local, oficinas de jardinagem, oficinas de bike, intervenções artísticas entre outras atividades. Iniciativas assim mostram que existe sim amor em SP.

Espaços públicos de qualidade têm potencial para fomentar a economia local e valorizar toda a comunidade em que estão inseridos.

Além do lazer, eles influenciam o estilo de vida de seus moradores, sendo uma de suas funções simbólicas a abertura ao intercâmbio e ao diálogo, conectando pessoas e lugares de todo tipo e procedência em qualquer momento. Podemos ligar diretamente a qualidade de vida de uma cidade através da dimensão da vida coletiva nos seus espaços públicos. São necessários espaços mais humanizados que permitam o lazer, a recreação, o ócio criativo e a livre circulação.

Seja para passear, passar ou permanecer, descansar ou se exercitar, tudo isso faz a cidade renascer! Por mais que a sociedade esteja em constante modificação, os espaços de convivência são vitais. Afinal a vida é a arte do encontro.

 

A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros na vida
Vinicius de Moraes

 

Por Mayra Sayuri