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Empoderamento de Comunidades: quem disse que é possível?

Por 20 de outubro de 2015agosto 30th, 2016Artigos

Mariana Madureira

 

Empoderamento é um neologismo que pegamos emprestado do inglês empowerment e significa adquirir poder de forma emancipatória. Segundo Tião Rocha, educador inspirador cujo trabalho acompanhamos e colaboramos, em Minas Gerais temos o “empodimento” que é quando nos damos conta de que “nóis pode”.

Está intimamente ligado ao antigo “aprender a pescar” em oposição ao ganhar o peixe pronto proveniente da caridade alheia ou de políticas assistencialistas. Deve-se, em grande parte, ao aumento da autoestima com a valorização do próprio território, das próprias habilidades e dos recursos a que tem acesso.

É uma visão libertadora de abundância que tira o foco da escassez e da reclamação para atuar de forma assertiva em soluções simples e transformadoras.

Em um mundo em que temos cada vez menos empregos, mas continuamos a ter fontes de trabalho e renda, é importante que as pessoas – sobretudo as mulheres que geralmente precisam conciliar a geração de renda com os cuidados com a casa e os filhos – encontrem formas autônomas e eficientes de criar um meio de vida com o que têm em mãos.

A Raízes acredita nessa forma de desenvolvimento e vem atuando para empoderar comunidades pelo Brasil. Vamos ilustrar com 4 casos de “empodimento” no nosso querido estado de Minas Gerais.

Caso a caso

O Artecarste foi um projeto idealizado pela Raízes em parceria com o Circuito Turístico das Grutas. Foi uma proposta de qualificação de artesãs para que seus trabalhos manuais adquirissem identidade local e valorização.

Passaram pelo projeto mais de 50 pessoas e houve mais de 200 horas de qualificação. O ponto mais positivo foi a forma como se apropriaram de signos e materiais locais e conseguiram criar peças totalmente diferentes, inovadoras e de alta qualidade.

Outro exemplo que mora nos nossos corações é o Projeto de Desenvolvimento através do Turismo de Base Comunitária no Jequitinhonha. Idealizado e realizado pela Raízes desde 2012 – anterior a esse período desenvolvíamos um projeto de comércio justo de artesanatos nessa mesma região -, trata-se de um projeto de qualificação contínua e operação de viagens de experiência em 3 comunidades.

Como ponto alto podemos mencionar a crescente profissionalização dos serviços (sem perder o jeitinho só delas de receber os turistas) e melhoria visível na qualidade de vida das artesãs-anfitriãs.

Um outro projeto mineiro ainda em seu início é o Projeto de Geração de Trabalho e Renda no Morro d’Água Quente (distrito de Catas Altas-MG) através dos recursos de gastronomia e turismo. Mais uma vez o foco principal são as mulheres e para ações específicas de turismo, também os jovens da comunidade.

A intenção é fortalecer as habilidades individuais bem como trabalhar a cooperação e a capacidade de articulação e gestão em rede, para que possam se integrar em projetos maiores já existentes na região e ganhar projeção.

Por último, não poderíamos deixar de citar o projeto desenvolvido em parceria com o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), ONG criada pelo educador Tião Rocha mencionado no início desse artigo. Trata-se do Projeto de Formação de uma Fabriqueta de Turismo para Araçuaí.

O município de Araçuaí no Vale do Jequitinhonha abriga uma série de projetos do CPCD e para criação de habilidades e geração de renda para jovens foi criada a Cooperativa Dedo de Gente que já tem as fabriquetas de Marcenaria, Serralheria, Artesanato, Cinema e Software.

Em 2014 foi iniciado os trabalhos para a criação de uma Fabriqueta de Turismo que tem como intuito absorver e receber melhor a demanda que já existe para a cidade e a ONG, bem como atrair mais visitantes para a região.

O que esses quatro projetos têm em comum além do fato de terem sido realizados pela Raízes em Minas Gerais? Esses projetos são emblemáticos de como atuamos frente aos desafios de empoderamento de comunidades:

  • acreditamos na formação de autonomia, apoiando as pessoas para que possam a gerar renda de forma interdependente;

 

  • a interdependência vem do trabalho autônomo, mas conectado. Em grupos e redes podemos mais e chegamos mais longe, por isso trabalhamos princípios de associativismo e colaboração;

 

  • não apenas por ser nossa principal expertise, mas também por estar ideologicamente alinhado com nossas crenças de como é possível gerar desenvolvimentos sustentável, todos os trabalhos mencionados nesse artigo envolvem o turismo sustentável e sua produção associada (gastronomia, agroecologia e artesanato);

 

  • os trabalhos em comunidades tem sempre como tema transversal a valorização da história e das tradições desses lugares. Acreditamos que não apenas para fins de turismo, mas para fins de cidadania as raízes são fundamentais;

 

  • o temos como missão a diminuição das desigualdades sociais com a criação de oportunidades reais para minorias, por esse motivo, privilegiamos os trabalhos que beneficiem as mulheres e os jovens de baixa renda;

 

  • o Por último, acreditamos que a mudança vem de dentro. O primeiro passo para fortalecimento de um capital social que desenvolva uma comunidade de forma sustentável é a atenção aos nódulos dessa rede: as pessoas. Através dos princípios de confiança, abundância e colaboração buscamos aprimorar o potencial humano

 

Sem receita de bolo, mas com essas diretrizes gerais em mente. É assim que a gente acredita que pode fazer diferente e tem contaminado algumas comunidades por aí que acabam acreditando que podem também.