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Turismo sustentável x Copa do Mundo: megaeventos são mesmo bons para o turismo?

Por 25 de maio de 2018maio 28th, 2018Turismo

Existe uma imagem precipitada e até ingênua de que o turismo de grandes eventos, como o da Copa do Mundo ou Campeonato Mundial de Futebol FIFA, é sempre bom para as cidades sede. Depois do Brasil, que recebeu a Copa do Mundo em 2014, é a vez da Rússia sediar esse mega acontecimento. E à beira do início dos jogos, vale agora (e sempre) a reflexão sobre o legado que o turismo sustentável (ou insustentável) desse evento deixou em nosso país.  

De fato, há uma grande movimentação econômica estimulada especialmente pelo turismo. De acordo com dados do Governo Federal, somente no período de alta temporada por conta da competição, recebemos mais de 1 milhão de turistas estrangeiros e movimentamos 4,4 bilhões de reais.  Mas da mesma forma que traz muitos benefícios financeiros, existe uma realidade velada por trás desse glamour, como o aumento da prostituição, inflação nas cidades sede, abandono de espaços construídos para ocasião (os famosos “elefantes brancos”), entre outras práticas insustentáveis. 

 O que dizem os números 

De acordo com uma pesquisa feita pelo Ministério do Turismo (MTur) em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, o perfil do turista na Copa 2014 realizada no Brasil era de homens em maioria (76,2%) com idade entre 25 a 34 anos (40,3%) – perfil que infelizmente tende a coincidir com o potencial consumidor de turismo sexual, além dos jogos de futebol estarem frequentemente associados a alto consumo de álcool e eventuais problemas decorrentes do mesmo.   

De 2013 a 2016, surgiram 3.350 sites associando o Brasil à pornografia ou vendendo o país como um bom destino para o turismo sexual, segundo levantamento da empresa Axur.  Essa pesquisa mostra que o número de novas páginas, em diversas línguas, superou as 2.165 que o MTur tinha conseguido tirar do ar em 2011 e 2012.  

Para a reflexão dos impactos da Copa que precederam a edição de 2014 no Brasil, vale  a leitura do artigo “Megaeventos esportivos: reflexões sobre sustentabilidade e suas relações com o turismo”, por Tassiana Hille Pace e Letícia Peret Antunes Hardt, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Há nele um quadro com um resumo de impactos (positivos e negativos) dos Jogos Olímpicos, de 1988 a 2012, na Gestão e Sustentabilidade Socioambiental das respectivas cidades-sede e efeitos perversos do turismo como o alto custo de manutenção de instalações turísticas no pós-evento na Grécia (Copa 2004), a supervalorização dos preços na China (Copa 2008) e a diminuição do número de turistas europeus na Inglaterra (Copa 2012) 

 É possível fazer diferente 

Por essas (citadas acima) e outras razões que é necessário adotar estratégias e a alocação de investimentos voltados ao turismo sustentável em longo prazo, princípios sustentáveis e roteiros alternativos. O artigo publicado pela UFPR cita o chamado “Green Goal”, estudo realizado pela E&Y (2010), que apresentou alguns passos para a “Copa Verde” de acordo com padrões de responsabilidade socioambiental dos estados e áreas prioritárias. 

Outro exemplo disso foi o programa Passaporte Verde, criado pela ONU Meio Ambiente (antigo PNUMA-Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) internacionalmente em 2008 (saiba mais sobre o Green Passport), como uma campanha de conscientização para práticas de produção e consumo mais sustentáveis no turismo. Em 2014 foi lançada uma edição especial no Brasil para o período da Copa do Mundo com o intuito de mobilizar turistas e empresários para a adoção de comportamentos mais sustentáveis. A campanha oferecia um portal interativo, aplicativo móvel e estratégias de mobilização nas redes sociais com o “Eu cuido do meu destino”. 

Dois anos depois, durante os Jogos Rio 2016, a Raízes foi a executora da campanha que tinha como meta, entre outras coisas, engajar projetos, iniciativas e empresários a pensar – e colocar em prática – como ser mais sustentável. Também buscamos estimular os turistas a conhecer roteiros autênticos no Rio de Janeiro. Eram gratuitos e nas comunidades, valorizando a autenticidade, o contato com a natureza e com a cultura local, e a consciência de participação e impacto durante a viagem. 

A diferença e, sobretudo, a mudança, acontecem assim: quando surgem mais e mais iniciativas alternativas, mas, sobretudo, oficiais, com apoio do Poder Público. A gente acredita (e pratica) os princípios do turismo sustentável. E você? Vamos recordar as dicas do Passaporte Verde? 

Imagem destacada: Reprodução/Goal