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Onde a nova masculinidade encontra o empoderamento feminino

Surgiu há uns anos e tem sido crescente uma discussão sobre a nova masculinidade. Em outras palavras, uma revolução na maneira dos homens agirem, pensarem e se comportarem. Um respiro de esperança para um mundo no qual pessoas, independente do gênero, buscam um modelo social mais justo, democrático e igualitário. Mas neste caso os homens abrem mão de seus privilégios herdados pelo sistema patriarcal.

Aqui na Raízes a gente desenha e implementa projetos voltados ao empoderamento de mulheres, gerando renda com Turismo e produção associada. Mas isso inclui a interação com muitos homens em toda essa cadeia e o impacto indireto a eles, de diversas formas. Frequentemente, inclusive como beneficiários de alguns projetos de empreendedorismo. Por isso, é importante entender que a sociedade evolui com todos juntos. Assim, também temos de repensar o papel do homem.

O assunto veio à tona com mais força nessa semana depois que a Gilette soltou uma propaganda na qual retrata homens tendo diferentes reações diante de situações de violência. As cenas incluem simulações tanto de agressões físicas quanto assédio moral entre homens adultos e entre crianças, meninos. Junto com a narrativa, o vídeo publicado originalmente em inglês no YouTube complementa que já passou da hora de usar velhas desculpas.

“A gente acredita no melhor nos homens. Para dizer a coisa certa. Para agir da maneira certa (…). Porque os meninos de hoje serão os homens de amanhã”, diz o anúncio, entre outras coisas.

O assunto tem sido pauta da revista GQ, voltada para o público masculino. Por sua vez, a revista Meio & Mensagem, que fala de comunicação em especial a publicitários, escreveu no ano passado sobre a tendência comercial das marcas em abordam esses temas. E o Papo de Homem tem feito um excelente trabalho em ressignificar a masculinidade em toda a sua linha editorial.

 

Homem chora

A nova masculinidade inclui uma releitura da própria masculinidade mal entendida. Quem foi que disse que os olhos dos homens também não foram feitos para chorar? São à prova de lágrimas? O vídeo inclui uma cena em que um menino sofrendo agressões verbais abraça a mãe e chora. Em outra passagem, um homem repreende outro dizendo “que não é legal” assediar uma mulher que passa por eles na rua.

Há uma excelente entrevista feita com o antropólogo holandês Rixtar Bacete em que fala que “faz falta um homem diferente, andrógino, que seja quem quer ser, sem represálias”. Ele é um estudioso e defensor da nova masculina. Tornou-se ainda mais depois da paternidade e relata em diversos momentos da vida represálias que sofreu por parte de outros homens, por simplesmente querer ser quem é.

Rixtar também diz que “as crianças são socializadas na violência, para não sentir empatia. É significativo que lhes seja ensinado que não devem brincar com bonecas”. Por isso, ele acredita que o verdadeiro avanço dos homens para a igualdade será produzido quando for dado o salto do discurso à ação. Confira na íntegra.

 

Contra a violência

O Brasil é o quinto lugar no mundo em violência doméstica. Sabemos que o machismo estrutural tem gerado grande violência contra a mulher. Existe hoje meios legais de defesa das vítimas, como a Lei Maria da Penha. Mas nem sempre há tempo hábil de salvar uma vida. Para diminuir esses números não basta empoderarmos as mulheres. É preciso resgatar os homens de uma masculinidade tóxica que cria a crença de que a mulher o pertence (objetifica) e que deveria servi-lo em suas expectativas, desejos e padrões destorcidos de relacionamento. O resultado é que o Brasil tem em média oito assassinatos caracterizados como feminicídios por dia.

Já existem cursos de reciclagem para homens enquadrados na Maria da Penha há algum tempo e agora essa medida já prevista na Lei tem se espalhado e ganhado mais força no país. Em um momento em que a posse de armas em casa tende aumentar, elevar a consciência de todas as pessoas, homens e mulheres, sobre os efeitos violentos da masculinidade tóxica, é uma questão de vida ou morte para muitas.

 

É hora de mudança. Preparadxs para esse novo mundo? Nós estamos.