Por uma sorte do destino ou coincidência (coisas que talvez nem existam, mas que, independente de como escolham chamar, são sempre generosas comigo), pude estar em Manaus durante o acontecimento do 2º Festival de Investimentos de Impacto e Negócios Sustentáveis na Amazônia (2º FIINSA).
A data, em novembro passado, casou – sem nem mesmo namorar – com o fim da Expedição Amazônia Dona do Meu Fluxo. Quando ouvi sobre o evento, já soube que deveria estar lá! E é sobre as impressões gerais desse acontecimento sincrônico que quero falar enquanto a coisa está muito viva dentro de mim e eu sobrevôo a floresta amazônica traçando o caminho para o que hoje chamo de “casa”.
Um preâmbulo
Antes de chegar ao Festival de Investimentos de Impacto e Negócios Sustentáveis na Amazônia em si tive a imensa alegria de passar dias imersa com mulheres amazônidas, moradoras de centros urbanos e ribeirinhas, em rodas que trouxeram com muita força as potências e dores do ser feminino, do ser fluxo, do ser de fato… E se perceber como natureza e não máquina. O Dona do Meu Fluxo sempre desperta caminhos potentes e profundos em mim. E dessa vez não foi diferente.
Saí dessa intensidade amazônica de vivência que me levou Rio Negro acima e, depois, estrada adentro para um centro de convenções bem do gelado dentro de Manaus. Mas algo sempre escapa ao condicionamento do ar, que simula um clima colonizador, e o calor tropical penetra nos ouvidos.
De volta ao FIINSA
O evento todo pode ser ilustrado pelo impacto da presença de Juma Xipaia, que abre sua fala abaixando e levantando o cocar em sinal de reverência e respeito. Veja bem, o mundo dos negócios e investimentos não tem lá muitas mulheres, quiçá indígenas (ou pessoas que não sejam homens brancos do sudeste em geral) falando e ela começa com esse gesto. E os gestos… ah, os gestos importam e dizem tanto ou mais que as palavras. As palavras, essas vindas depois do gesto, seguiram plenas da força e verdade de quem é flecha.
Juma diz que espera para o futuro da Amazônia é que ela permaneça de pé. E isso não é de maneira alguma uma fala ingênua ou trivial dentro de um mundo que enxerga tudo como utilidade e valor financeiro. Isso vem em meio a falas protocolares, bem-intencionadas, de homens de negócios. Mas o que ela enxerga é maior. E ela tem a generosidade de nos mostrar – a nós, que achamos ter tanto a ensinar, mas que sempre precisamos aprender.
Segue dizendo que os povos originários não são objeto de pesquisa e nem de comercialização de ninguém. Falar que indígenas têm capacidade de aprender os “nossos” conhecimentos, mas que abrir mão dos saberes para se adaptar ao mundo não indígena é sempre um risco.
Veja, eles, sim, se aventuram na nossa lógica caótica para poder navegar e se fazer ouvir, mas trazendo a mensagem muito clara de que é preciso inverter a lógica de conhecimento do capitalismo. É preciso reflorestar a mente das pessoas.
Ela, que recebeu dos pais um castanhal como herança, que já alimentou gerações e vai seguir alimentando inúmeras outras, vem nos alertar: precisamos de negócios sustentáveis, uma economia baseada na proteção e no cuidado. E é partindo dessa premissa que podemos juntos sonhar o futuro.
Por Tauana Costa