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Moda sustentável no Brasil: impacto é muito mais do que escolher o que vestir

Gosto de refletir sobre as nossas escolhas… Como elas vão sendo moldadas pela sociedade de consumo e como precisamos ficar atentos para não potencializar o insustentável. Uma reflexão para iniciar o caminho até chegar à moda sustentável no Brasil é que desde que os humanos passaram a se cobrir para suprir suas demandas primárias, surgem vestimentas e acessórios, trazendo junto com eles matérias-primas diversas encontradas na natureza, criatividade para transformá-las, ferramentas e habilidades manuais para produzir. 

Desde então, a moda é também expressão da cultura, de um tempo, seus modos de vida e identidades territoriais. E, nesse sentido, muita coisa cabe dentro dessa palavra: moda – que não é um conceito fechado. Não é apenas estilo, designer, consumo, visibilidade, glamour. 

O mundo chegou ao número de 8 bilhões de humanos que precisam se vestir, se alimentar e morar dignamente. Pessoas que vivem em lugares diversos, com condições de vida muito diferentes e, não raro, desiguais. Esse contingente requer a produção de bens e produtos em quantidades que, para além do uso, atualmente assusta pela sua insustentabilidade. 

O movimento de acesso ao consumo que permitiu a oferta de produtos com preços acessíveis graças à produção em massa, o chamado Fast Fashion, revolucionou a moda. Entretanto, mesmo sendo positivo no sentido de gerar possibilidade de trabalho e democratizar essa oferta, ele está relacionado, muitas vezes, a aspectos negativos como: trabalho infantil, trabalho em condições análogas à escravidão, remuneração precária, degradação da natureza, alto consumo de água etc. Além disso, a qualidade dos produtos também é discutível. 

São produzidas quase 9 bilhões de novas peças por ano somente em território nacional. Isso equivale a uma média de 42 novas peças de roupa por pessoa em 12 meses. Os dados são do relatório Fios da Moda, feito pelo Instituto Modefica e FGV. E eles assustam. Isso te parece ser moda sustentável no Brasil? A mim, não. 

 

Escalar ou ressignificar? 

Pensando nisso, sem deixar de tratar o acesso como fundamental, vão surgindo no país e no mundo novos movimentos ligados à moda sustentável e ao consumo mais consciente, com utilização de ferramentas e tecnologias ligadas ao reuso, reaproveitamento, rastreabilidade da cadeia produtiva. Ou ainda, movimentos potentes de moda autoral, onde a produção é acompanhada de perto por seus criadores: da seleção das matérias-primas até a peça finalizada e sua entrega ao cliente, num processo em que a mão de obra é, em sua maioria, de profissionais locais. 

Associa-se a isso a busca por originalidade e genuinidade, que traz os reflexos da cultura local, onde entram o artesanato, as matérias-primas locais, as cores e as formas do lugar, os ofícios e saberes ancestrais. São produtos que podem vestir pessoas e, igualmente, ambientes diversos e que ampliam a capacidade de produção de pequenos negócios artesanais para a moda casa. 

 

O mundo é de todes e para todes… A moda também! 

Também surge uma nova comunicação de apoio à diversidade de gênero, uma moda agênero, que veste pessoas, que veste liberdade. E causas como antirracismo, inclusão de Pessoas com Deficiência (PcD), antietarismo são algumas delas, muito presentes na moda e, cada vez mais, trazendo a universalidade e o respeito como vestimenta e ativismo. 

Esses processos levam à uma produção em menor escala, mas fala igualmente com novos consumidores. Essas pessoas, por sua vez, não querem mais apenas preencher seus guarda-roupas. Procuram produtos de qualidade e que revelem processos sustentáveis de produção, que comuniquem sua real visão do mundo em que querem viver e deixar para as próximas gerações. 

Na pesquisa “Percepções Sobre a Moda Sustentável”, do movimento Moda ComVerso, ao abordarem a relação entre o custo dos produtos e o comprometimento das empresas, 3 em cada 4 respondentes disseram estar dispostos a pagar um pouco mais por produtos comprometidos com causas sociais e ambientais. Isso mostra uma tendência de mudança no consumidor brasileiro que tem muito ainda a evoluir. Mas já estamos no caminho! 

 

“Inventando moda” e os espaços de diálogo 

O que encanta nesse setor é a capacidade de dialogar com tantos outros! Gastronomia, turismo, artes cênicas, dança, arquitetura, tecnologia. Há uma interdependência e uma multiplicidade de possibilidades que “chamam” a moda para uma conversa muito produtiva. 

Afinal, pessoas e ambientes diversos revelam identidade e personalidades próprias. E elas merecem se encontrar no meio do caminho para abrirem novas possibilidades, mais trabalho sustentável na cadeia produtiva da moda e impacto social positivo nos territórios produtivos. 

Dito tudo isso, o que mais posso dizer é: vem novidade da Raízes por aí, ligada à moda sustentável no Brasil! Aguarde e continue nos acompanhando para saber. 

 

Por Jussara Rocha