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5 habilidades socioemocionais para empreendedores

Por 10 de fevereiro de 2023Artigos

Nós, seres humanos, somos seres sociais que necessitam do contato e da cultura para desenvolver e aprender. Assim é o desenvolvimento desde o nascimento. Crianças interagem, brincam e, com isso, aprendem. Nesse processo de desenvolvimento, habilidades socioemocionais vão sendo adquiridas para uma vida saudável psíquica e emocionalmente. Porém, algumas delas não estão plenamente desenvolvidas em muitas pessoas.

O fato é que essas competências – que são conhecimentos postos em prática – nos ajudam nas interações sociais através de um comportamento coerente com valores sociais e culturais. Permite relações mais saudáveis tanto da pessoa consigo mesmo quanto com os outros.

Experiências da vida como traumas, estresse e dores emocionais contribuem para que a pessoa crie mecanismos de defesa. Isto, na vida profissional, também pode prejudicar a atuação e até mesmo o “sucesso” – uma vez que o termo “habilidades socioemocionais” é bastante usado no contexto organizacional e empreendedor para determinar as atribuições necessárias para ser bem-sucedido.

Por isso, algumas habilidades socioemocionais são essenciais para uma pessoa empreendedora exercer o seu papel, considerando que vive constantemente em contato com pessoas, sejam clientes ou liderados, momentos de instabilidade e muitas incertezas.

Para além da prática do empreendedorismo

Pensando um pouco além, não só empreendedores necessitam dessas habilidades, mas todas as pessoas adultas em que o trabalho ocupa a maior parte da vida – e também pensando em como ser empreendedores de si mesmos. Isto é: poder gerir e liderar a própria vida para o autoaprimoramento e desenvolvimento em todos os âmbitos da vida profissional, afetiva e familiar.

Pelo conceito de Peter Drucker, todos nós somos seres empreendedores, uma vez que empreendedor é aquele que sempre busca mudanças, responde a elas e as explora como uma oportunidade. Essa definição já apresenta as habilidades socioemocionais necessárias para um empreendedor, como:

– Capacidade de aprender e desaprender,
– Capacidade de tomada de decisão,
– Colaboração,
– Comunicação efetiva,
– Confiança,
– Criatividade,
– Curiosidade e
– Flexibilidade.

Obviamente essa lista de competências poderia ser mais extensa. Mas vamos considerar aqui essas características como principais, das quais, além de interagirem entre si, podem emergir outras, promovendo sempre um caminho ao autoaprimoramento. Com elas, é possível ter melhor interação com o ambiente, com outras pessoas e também contribuir para o desenvolvimento pessoal.

A seguir, selecionei cinco para discorrer mais detalhadamente.

1-     Confiança

Há um tempo a confiança poderia não ser considerada uma habilidade – e talvez para muitos não seja. Mas eu a incluo na lista de habilidades principais, pois é extremamente necessária no sucesso de negócios, entre clientes, parceiros e colaboradores, pois desse estado de confiança o comprometimento e o entusiasmo podem existir.

Confiança é um ato de fé, pois acredita em algo que deveria acontecer. No mundo exigente de resultados, não é possível ver e realizar tudo. Líderes, por exemplo, precisam criar confiança nos colaboradores para que realizem. O primeiro passo é empoderar os outros e, então, confiar que são capazes.

1.1   Dimensões da confiança

Autoconfiança é o ponto de partida de gerar e ter confiança. Para entregar confiança é preciso confiar em si. Para alcançar a autoconfiança é preciso o autoconhecimento. Isto é: buscar conhecer-se melhor, seus pontos fortes, pontos fracos e colocar em prática ações para o aprimoramento.

Confiança pessoal é a coerência entre pôr em ação o que se diz. É a dimensão mais natural, baseada em valores como honestidade e ética.

Confiança interpessoal está associada às relações com terceiros, como seres sociais. É dessa confiança que nasce a empatia e a equidade. Isso é como tratamos as pessoas e como nos aprimoramos desde as relações.

Confiança realizacional são as competências que levam as pessoas a atingirem os resultados esperados. Essa dimensão é situacional, uma vez que depende do contexto. Como diz Marco Fabossi, autor do livro O Fator Confiança – As Bases Para Uma Liderança Extraordinária, nesta confiança é gerada quando se entrega o que é esperado no contexto que está inserido.

A confiança pode ser um sentimento, mas é também um estado a ser desenvolvido pela pessoa – como a confiança em si, através de aprendizados e superações, e de um estado relacional construído em uma relação. Portanto, não é algo que já existe, é algo construído.

Oferecer confiança é uma escolha. Se planta confiança, irá colher confiança. É algo de dentro para fora.

1.2 Dados interessantes sobre o tema

Um estudo desenvolvido por Reicheld e Dunlop e publicado no Massachusetts Institute of Technology (MIT) Sloan Management Review mostra que os empregados confiantes estão 260% mais motivados para trabalhar, têm 41% menos taxas de absentismo e  menos 50% probabilidades de procurar outro emprego. Além disso, cerca de 1 em cada 4 trabalhadores não confia no seu empregador. Ao mesmo tempo, a maioria dos empregadores superestima o nível de confiança dos seus trabalhadores em quase 40%. Um real desalinhamento.

Descobriram que os trabalhadores que têm flexibilidade nos seus horários são 40% mais confiantes do que os que não têm – provavelmente porque têm um maior sentido de equipe. Os trabalhadores que interagem com os seus clientes são frequentemente mais confiantes porque vêem o seu empregador como mais humano e transparente. E aquelas pessoas que recebem mais benefícios – tais como seguros de saúde e tempo livre remunerado – dão à gerência índices de confiança mais elevados, porque vêem que o seu empregador valoriza o fato de proporcionar uma boa experiência de trabalho e os recursos necessários.

2 – Tomada de decisão

A tomada de decisão é uma das habilidades socioemocionais de extrema importância e depende diretamente do estado emocional. Estresse, pressão e medo podem estar relacionados à capacidade de ponderar entre prós e contras. Em uma tomada de decisão, neurologicamente, primeiro o cérebro acessa o valor da meta a atingir com tal decisão e, depois, a recompensa gerada pelo resultado. Isso significa o melhor resultado com o menor custo possível, em diversos termos (tanto externos quanto internos).

São diversos os níveis de tomada de decisão, inclusive os inconscientes, como movimentos físicos e automáticos. Há decisões mais complexas em que memórias são acessadas para a comparação entre a situação passada e futura. Com isso, são ativadas estruturas do córtex pré-frontal (associado ao armazenamento de memórias) e o do lobo frontal (cuja função é combinar todas as informações para integrar um plano e, logo, a decisão).

Além disso, a tomada de decisão e o julgamento da decisão são profundamente afetados pelas emoções. O cérebro dá a direção, mas não o poder de realizar. O humor, estados como prazer, e ansiedade têm direta influência e um profundo efeito nos resultados. Por isso, é necessário que empreendedores pratiquem momentos de conexão com o presente e relaxamento, tanto físico quanto mental, para poderem atuar em momentos de estresse sem ser afetado pelo forte apelo emocional.

3 – Criatividade

A criatividade é uma habilidade muito conectada à flexibilidade e ao aprendizado, pois, para ser criativo, é preciso uma mente aberta e flexível para novas adaptações e associações em direção à busca de solução.

Ser criativo envolve conectar informações e reconfigurar para uma nova solução ou criação. Criatividade é menos uma capacidade de inventar algo totalmente novo, mas, sim, uma habilidade de encontrar novos caminhos e soluções inovadoras que somente serão possíveis se houver uma gama de experiências e aprendizados já adquiridos para que essas informações sejam ativadas.

O conhecido “momento Eureka” ocorre quando vários pensamentos e memórias se associam e combinam-se para uma nova ideia ou solução. Nesse momento há uma intensa atividade cerebral.  Dessa forma, quanto mais experiências e disponibilidade a vivê-las e aprender, mais eles podem acontecer.

Focar em tarefas imediatas é vital para a vida diária. Mas, para a criatividade, é necessário abrir nossa mente para novos inputs e memórias que parecem não ser muito úteis, em um primeiro momento.

Biologicamente, o sistema nervoso é melhor conduzido a novas ideias quando a atenção está relaxada, ou em um estado de descanso. Por isso, a prática de interromper atividades por poucos minutos ao longo do dia gera um estado de presença e atenção que possibilita não somente melhores decisões, mas também soluções criativas.

Leia também: Como anda a sua criatividade? 5 questões pra entender a flexibilidade da sua mente

4 – Comunicação

Receber informações, rever conceitos e elaborar pensamentos através da comunicação efetiva é o que faz dela uma habilidade socioemocional. É a construção de narrativas próprias e com outros.

O ato de comunicar pode ser também um ato de resistência, nas ocasiões em que os pensamentos contestam informações que recebem mesmo antes de compreendê-las. Considerando esses aspectos, comunicar pode funcionar tanto como um estímulo à criatividade, contribuindo com a tomada de decisão e com o aumento da confiança nas pessoas e no processo, quando o oposto: fechar possibilidades e interação social.

O primeiro passo para uma comunicação efetiva é reduzir a resistência de qualquer informação que chegue. Por exemplo, se quando alguém fala a minha mente está trabalhando para buscar alguma informação a contestar ou conduzindo o pensamento para concordar ou discordar, esse é um tipo de resistência.

Neste caso, o ideal é simplesmente soltar qualquer julgamento e apenas receber a informação para, então, processar, reconhecendo os valores envolvidos nessas considerações. Assim é possível processar o que deve ser aprendido, considerado, reconsiderado para, então, se expressar em um diálogo construtivo.

Essa habilidade é muito mais complexa que parece, pois envolve muitas variáveis. Por vezes, na pressa das responsabilidades e prazos do dia a dia, a pausa para uma reunião de alinhamento face a face pode ser considerada perda de tempo, quando na verdade, nesse momento de conexão humana, ideias e soluções podem emergir – se há comunicação efetiva –, gerando, então, oportunidades de construir confiança e alinhamento dentro das equipes.

5 – Flexibilidade

A flexibilidade é  fundamental para outras habilidades socioemocionais (como tomar decisões), para rever conceitos e até mesmo para a inclusão social – tema importante na contemporaneidade. Por exemplo, se a equipe não é flexível para reorganizar a agenda para adaptar os horários de reuniões para mães, não pode ser considerada inclusiva – logo será difícil gerar confiança entre os membros e contribuir para o benefício de todas as pessoas. Isso influencia nos níveis de entusiasmo e confiança, e nas tomadas de decisão – uma vez que, como vimos, são diretamente influenciadas pelo estado emocional.

Insights pessoais sobre o que é mais importante para nós nos ajudam a navegar pelas escolhas que enfrentamos. Quando essas escolhas são bloqueadas, podemos sentir ansiedade e solidão. Quando podem ser cumpridas, temos um maior senso de significado.

Ajudar pessoas colaboradoras a lidar com essas questões não é apenas uma coisa boa de se fazer: dar a elas a flexibilidade que desejam está se tornando crucial para reduzir o estresse e aumentar a confiança na organização.

 Por Lizandra Barbuto

 

Referências

Fabossi, Marco. O fator confiança – as bases para uma liderança extraordinária. Ed. Benvirá. São Paulo. 2019.
Gratton, Lynda. Flexibility Is Key to Integrating Meaning and Work. MIT Slogan – Management Review. January 10, 2023

SCHUMPETER, Joseph. “O Fenômeno Fundamental do Desenvolvimento Econômico”. In A Teoria do Desenvolvimento Econômico Rio de Janeiro: Nova Cultural, 1985. https://pt.wikipedia.org/wiki/Peter_Drucker acesso dia 16 de janeiro de 2023.

Wisdom, Jessica. Five Ways to Make Your One-On-One Meetings More Effective. Failing to use time with direct reports in a meaningful way — or, worse, skipping these meetings altogether — can lead to higher attrition and drag down organizational goals. MIT Sloan Review. January 30, 2023.

Reichheld, Ashely; Dunlop, Amelia. How to Build a High-Trust Workplace – The more your employees trust you, the more engaged they’ll be. MIT Sloan Review. January 24, 2023