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Economia criativa: a potência do individual ao coletivo

Por definição, economia criativa é o conjunto de ações e atividades relacionadas à cultura, tecnologia e criatividade que geram receita e impacto na economia. A economia criativa no empreendedorismo, por sua vez, pode se referir àquela pessoa que usa a criatividade no seu negócio independente do produto ou serviço que ofereça. Para mim, é ainda aquela que tem um olhar coletivo, um olhar aberto sobre o que é o negócio dele e sobre a sua participação com a comunidade. Aquela que sai da zona de conforto pra atuar com outros segmentos não relacionados diretamente aos dela.

Dito isso, quero compartilhar a minha experiência com o Projeto de Desenvolvimento Territorial e Transformação Social, idealizado pela Vale, desenhado e implementado pela Raízes. De acordo com a minha percepção, ele tem sido muito bem sucedido! E isso me chamou atenção para alguns pontos importantes nos processos de nossa atuação. Alguns itens marcaram uma triangulação que, ao meu ver, foram fundamentais para o êxito que se está atingindo:

– A primeira delas é a potência do empreendedorismo local, um dos focos mais importantes;

– A segunda, o capital humano, as pessoas – porque não adianta você ser um empreendedor e não ser uma pessoa com desejos, com vontades e com abertura para o novo;

– E o terceiro item foi a condição do projeto através das atividades de sensibilização, palestras, atendimentos coletivos, conjugando um time de consultores alinhados e tecnicamente preparados para atuar.

A fusão desses três elementos proporcionou, ao meu ver, o êxito do projeto. Sem um deles, o triângulo seria insustentável. De nada adianta ter excelentes profissionais sem alcançar o outro lado da moeda: ou seja, beneficiários que possam receber o conteúdo que você proporciona em termos de conhecimento e experiência, uma troca. E isso aconteceu!

A isso, somos ainda outros itens, que são: a credibilidade desse beneficiário, a segurança e a confiança deles no nosso trabalho. Nós da Raízes podemos notar que as pessoas desse grupo têm o coração aberto – e isso fez toda a diferença.

 

Inspirar para gerar criatividade

Enquanto técnica e consultora no projeto, tive algo muito favorável com relação à fluidez da comunicação. As aulas com o viés da economia criativa no empreendedorismo eram muito vivas – tanto as palestras que eu pude participar quanto as aulas e atividades – com exemplos que proporcionaram muita identificação por parte dos beneficiários. E essa identificação foi proporcionando ao grupo alvo questões. E a ideia era essa em sua integralidade, gerar aos participantes reflexões a respeito dos temas abordados, e que o meu trabalho com este grupo pudesse alavancar processos criativos que evoluíssem para além do “mais do mesmo”.

Notei ainda que o grupo teve uma grande empatia por mim e eu por eles. Um aliado nesse processo foi o fato de eu conhecer anteriormente o município de Itabirito em outras oportunidades. Ter conhecido a cidade, e alguns de seus traços culturais, facilitou bastante as inter-relações. É sempre bom quando a gente tem uma experiência anterior em determinado território, porque às vezes você entra em campo e desconhece onde você está entrando. Nestes casos, precisamos “partir do zero”, e então, quando você já tem uma ideia do perfil das pessoas da comunidade, isso facilita bastante a troca, a relação e por fim a linguagem, a maneira de falar e tudo. Dito isso, minha percepção é de que tivemos uma geração de trocas sobremaneira importantes e que as mesmas foram em ordem crescente, partindo do individual ao coletivo.

 

Do individual ao coletivo: o surgimento de uma grande rede

A grande reflexão que acompanha esse grupo é a congregação, a fusão do coletivo em rede e, em especial, o que esta vivência me proporcionou, com respeito ao imenso potencial do agrupamento de pessoas e empreendimentos com diferentes propósitos e segmentos. Tivemos uma experiência muito grandiosa nesse sentido. O aspecto individual eram os depoimentos, a coleta de informações de cada empreendimento e de cada pessoa beneficiária. Nessas etapas, cada um tinha o seu tempo para se expressar, cada qual com o seu espaço de apresentação. Desta maneira, todos escutavam a todos – o que também foi muito importante para o que viria a seguir.

O processo teve muita escuta individual e coletiva. Depois disso, as pessoas começaram a se agrupar. E para nós da Raízes, esse foi um momento bastante especial e considerável. Acrescentaria ainda a importância de um começo ao se identificarem um com o outro, o reconhecimento mútuo, a saber de suas atividades. Quer dizer: o processo de relato de cada um permitiu que as pessoas passassem a se conhecer melhor. Isso gerou uma relação entre o grupo. Uma “pré-rede”, vamos dizer assim, mesmo antes de a oficializarmos pelas etapas previstas na atuação.

O processo foi, então, como eu disse, do individual para o coletivo. Depois que mapeamos isso tudo: as pessoas, os empreendedores, seus negócios e suas áreas de atuação, partimos para outro exercício com uma visão que foi bastante estratégica: “quais são os seus parceiros e empreendedores agrupados ao seu negócio?”. Pensar nisso foi uma inovação para eles.

Geramos, internamente, gráficos que consolidavam esses números. Incrivelmente, chegamos a 1.536 outras pessoas, uma grande rede de Itabirito impactada por esses 25 empreendedores criativos (que estavam participando ativamente dessas etapas virtuais). Para cada um deles foi gerado um gráfico que consolidava esses números – o que foi muito impactante pra todos nós, uma vez que a gente não estava lidando com um universo de dezenas, mas sim com uma rede que incorpora quase 1.600 indivíduos.

 

A importância da reflexão para a economia criativa no empreendedorismo

Além da percepção prática por conta dos negócios, é importante pensar nessas ramificações para lembrar que não estamos sozinhos, especialmente na empreitada nem sempre fácil o que é empreender. Esse exercício é bom para que cada empreendedor deixe o olhar autocentrado e possa perceber a importância do outro dentro do seu negócio. Refletir sobre isso também foi a nossa intenção.

É por essa razão que a palavra “reflexão” me parece muito importante o tempo inteiro, ainda mais falando em economia criativa no empreendedorismo.  É preciso ter um pensamento crítico do negócio e isso só é possível por meio da reflexão. Por vezes, se estamos muito envolvidos com algo, não percebemos nada. Mas quando tomamos distância um pouco, enxergamos as coisas de outra forma.

A indução que estava sendo trabalhada nessa etapa tinha a ver com isso, para que tivessem a possibilidade de se verem dentro daquilo que estava acontecendo, e como são potentes, porque movimentam muitas camadas da sociedade local.

 

Muito já foi feito, mas há muito pela frente

Após a etapa de criação e lançamento da Rede Criativa de Itabirito, atualmente temos 13 beneficiários incubados, sendo os mesmos, atendidos individual e presencialmente. Ao longo dos encontros e conversas, a busca foi entender ainda melhor quais os tipos de desdobramentos podemos ter em termos de economia criativa, valorizando as tradições, a cultura e a memória de Itabirito. O objetivo? Queremos potencializar empreendimentos importantes que podem e devem ser valorizados pelos olhares internos e externos.

 

Texto por por Maria Sonia Madureira de Pinho