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O que aprendemos com os desafios dos projetos sociais na pandemia

Há poucos meses resolvemos lançar a série de textos “Desafio da pandemia” com o objetivo de compartilhar conhecimento e, como o nome já diz, falar das nossas vivências com os desafios dos projetos sociais na pandemia. Falamos sobre inclusão digital na melhor idade, como dar início a um projeto social estando distante do território e sobre como lidar com a vulnerabilidade social em um ambiente virtual.

Mas, para além de cada especificidade que vivenciamos, ficaram (e têm ficado) grandes aprendizados, macro, que devem ser considerados. São características em comum entre cada projeto social. Confira as nossas reflexões a seguir.

 

1 – Engajamento é primordial

Por definição, engajamento é “participação ativa em assuntos e circunstâncias de relevância política e social, passível de ocorrer por meio de manifestação intelectual pública, de natureza teórica, artística ou jornalística, ou em atividade prática no interior de grupos organizados, movimentos, partidos etc”[1]. A palavra está em alta, especialmente por conta das mídias sociais, que consideram o engajamento do público o fator determinante para o sucesso de um perfil.

Nos projetos sociais, isso se aplica tanto a equipe de profissionais que atua com o grupo de um território quanto às pessoas beneficiadas. A vontade de fazer parte daquela rede, de se sentir pertencente, de se identificar, de atuar com aquelas ações e “fazer acontecer” faz toda a diferença para o trabalho realizado, ainda mais nesse momento delicado e sem precedentes que temos vivido.

Engajar pessoas não é uma ação simples e nem tem uma receita única, mas nossa experiência diz que passa pela escuta do que importa para o outro e da flexibilidade de ajustar a ação, evento ou projeto (na medida do possível) para que ele se sinta incluído.

 

2 – É preciso, mais do que nunca, considerar o cenário social

A pandemia trouxe impactos financeiros ainda maiores para famílias em situação de vulnerabilidade.  De acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), das Nações Unidas, a América Latina registrou 22 milhões de novos pobres em 2020. Com isso, são 209 milhões de pessoas em situação de pobreza. Destas, 78 milhões estão em extrema pobreza, 8 milhões a mais do que em 2019. Os dados são do relatório “Panorama Social da América Latina 2020”.

De nada adianta “cobrar” engajamento se o cenário não for considerado de todos os lados – e ainda mais falando de um projeto social.  É preciso considerar o panorama em que o grupo está inserido. Isso contempla aspectos físicos (tecnologia, espaço de trabalho, conectividade, finanças, saúde do corpo) e psicológicos (o avanço da doença, perda de entes queridos, preocupações etc.)

Por isso, fazer o diagnóstico e identificar essas peculiaridades é fundamental para lidar com os desafios dos projetos sociais na pandemia. Uma dificuldade de engajamento online, por exemplo, pode ter como fonte uma carência econômica dos beneficiários (nesse caso precisaria ser considerada a aquisição de equipamentos como smartphones ou tablets e planos de internet), uma carência estrutural da localidade (que exigiria soluções mais complexas e parcerias públicas), inaptidão técnica (qualificação), motivação (sensibilização e engajamento) ou problemas pessoais. Nesse último caso, pode não ser possível resolver pela via do projeto, mas é importante acolher e legitimar as razões que impedem as pessoas de se envolverem nesse contexto.

Aqui na Raízes, sempre buscamos saber de cada pessoa beneficiada individualmente. Temos canal aberto para, por exemplo, receber mensagens particulares a qualquer momento. Também mantemos grupos de WhatsApp, de acordo com cada rede, para trocas de mensagens sempre que necessário.

 

3 – Respeito ao tempo é a atitude-chave

Respeito é sempre fundamental para viver em harmonia com a sociedade. Mas diante de todo esse cenário, respeitar aos outros e a si mesmo é ainda mais delicado e um fator determinante para o sucesso ou fracasso de uma iniciativa. Precisamos respeitar o tempo de cada pessoa e o tempo das coisas. A pandemia nos lembra que não podemos controlar tudo e que é preciso abrir espaço para as adaptações que a vida pede. Precisamos de ainda mais escuta ativa e olhar atento.

 

Se você chegou até aqui: esperamos que os nossos aprendizados com os desafios dos projetos sociais na pandemia possam ser os seus também!

[1] Fonte: Oxford Languages