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Turismo Sustentável de Base Comunitária em tempos de Instagram: ecoturismo ou egoturismo?

“Turismo Sustentável de Base Comunitária em tempos de Instagram: ecoturismo ou egoturismo?” foi tema de uma das palestras da WTM Latin America, feira internacional de turismo que aconteceu em São Paulo capital nos últimos dias 05 a 07 de abril. Participaram dessa conversa Mariana Madureira, diretora e cofundadora da Raízes Desenvolvimento Sustentável, Bruno Mangolini, coordenador da Poranduba, e Gustavo Pinto, conselheiro para turismo responsável WTM Latin America. Neste texto, trouxemos os principais pontos dessa conversa.

As mídias sociais podem influenciar na nossa vida e o seu uso pode interferir na maneira como viajamos e conhecemos pessoas, comunidades, lugares pelo mundo? Foi com base nesse questionamento que Mariana desenvolveu sua pesquisa tese de doutorado sobre Subjetividades e Viagens na Contemporaneidade, pela Pós-graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (baixe aqui a publicação e leia  na íntegra).

Esse estudo traz uma análise do olhar específico para o Instagram. “Essa inquietação me veio pensando no tanto que a gente mudou a comunicação nos últimos anos”, conta. “Como isso muda o sentido da viagem?”, questiona a turismóloga.

 

O sentido do Turismo Sustentável de Base Comunitária

Bruno comentou que esse termo atualizado, Turismo Sustentável de Base Comunitária (TSBC), traz ainda mais sentido para como deve ser uma viagem de base comunitária: sustentável. Além disso, a comunidade deve ser protagonista daquele(s) roteiro(s), de modo que a atividade contribua para a sua existência e para a conservação do território, sem fazer com que perca a sua essência, sua cultura, sua identidade.

Desde 2017 , ele mora em uma comunidade no Rio Negro, Amazonas, onde tem atuado em projetos de educação e sustentabilidade. Dois anos depois, após muito diálogo com os comunitários e sem o objetivo inicial de atuar com turismo, fundou a Poranduba, uma organização que visa fortalecer o Turismo sustentável de Base Comunitária no baixo Rio Negro.

Para Bruno, “TSBC é como um ‘textão’: ler um texto longo, ouvir as histórias etc. Existem pessoas que não vão comunicar só a aparência. TBC é um contraponto ao turismo massificado, é algo visto como alternativo, de alguém que foi fazer uma viagem fora da caixa. É uma contratendência e o mercado passa a oferecer isso massificadamente, sem a essência da coisa. Não tem como fazer TSBC em larga escala”.

 

Locais “instagramáveis” e a sociedade do espetáculo

Transformados pelo meio que a gente vive e pela maneira que consumimos, o nosso modo de viajar pode prejudicar o sentido de uma viagem como a de Turismo Sustentável de Base Comunitária. Viagens rápidas, a busca incessante por locais “instagramáveis”, sem aprofundar na história da região a ser visitada e sem vivenciar a realidade local,  vai contra o propósito desse tipo de roteiro. “Todo mundo que é bem sucedido, viaja”, diz Mariana, referindo-se  à maneira como isso é mostrado e consumido pela sociedade contemporânea por meio das mídias sociais.

Essa busca pelo sucesso nos faz passar tantas e tantas horas na tela de um smartphone. Mas ele parece alcançável quando uma celebridade, por exemplo, se mostra “gente como a gente”, traz detalhes do dia a dia e isso cativa quem acompanha esses perfis por mostrar vulnerabilidade e humanizar – especialmente nos stories. O feed, por outro lado, mantém os discursos de sucesso.

Graduado em Psicologia, Bruno associa esse maneira de usar o Instagram com a Sociedade do Espetáculo, trabalho mais conhecido do filósofo Guy Debord: “as pessoas precisam mostrar só o lado positivo [nas mídias sociais], imagens que remetem ao sucesso. É um estereótipo mesmo, e o turismo entrou nessa”.

O alerta, dizem eles, fica para os aspectos negativos dessa influência no caso do turismo comunitário:

– Se desvincular do encontro ao outro, da natureza e da profundidade que pede aquela vivência;

– Levar a experiência para o normativo e na lógica mercadológica: “tenho de ir porque meu vizinho foi”;

– Tratar pessoas e culturas diferentes como exóticas – o que é diferente do conceito de diverso, que implica principalmente em respeitar o outro como é.

 

Boas práticas para o Turismo Sustentável de Base Comunitária

O que fazer para respeitar as comunidades seja como operador, seja como turista? Um exemplo, pode ser ter um Manual do Visitante com informações e orientações sobre a comunidade, costumes, direito de imagem etc.; chamar os turistas para reflexão; criar conteúdos ricos (para as mídias sociais e offline) com justamente aquilo que queremos incentivar; diálogo constante com a comunidade, entre outras iniciativas.

A Poranduba desenvolveu um material didático, dividido em nove seções, que pode servir como referência. O objetivo é fornecer elementos teóricos e práticos para quem tiver interesse em utilizar em suas iniciativas. Saiba mais e baixe por esse link.

O que você incluiria nessa lista?

 

Foto: Reprodução/ Poranduba Amazônia