Enraizado em nossa cultura e sociedade, ainda que mais da metade da população seja representada por negros e negras, o racismo está aí. Velado, muitas vezes ignorado. Mas basta você se colocar no lugar de outra pessoa e praticar um olhar de empatia ao seu redor que vai perceber. Por isso queremos – e precisamos (!) – falar também sobre turismo antirracista. Acima de tudo, é preciso promover iniciativas nesse sentido e dar voz às pessoas que atuam por uma vida igualitária e livre dos preconceitos.
No post de hoje a gente bate um papo com a CEO da Conectando Territórios, uma agência de turismo que conecta pessoas à cultura, memória e história afro-brasileira. Thaís Rosa Pinheiro é negra, empreendedora, turismóloga, mestra em Memória Social pela Unirio, especialista em história da África e Afro-Brasileira e em Estudos da Paz e Resolução de Conflitos.
A conversa foi ótima! Confira a seguir e conheça essa importante iniciativa em prol do turismo antirracista – e a favor da história afro-brasileira.
Raízes Desenvolvimento Sustentável: Thaís, como começou a sua relação com o turismo?
Thaís Rosa Pinheiro: Sempre fui apaixonada por outras culturas diferentes da minha, principalmente pela diversidade da cultura brasileira. Sou turismóloga e possuo uma agência de viagem que busca quebrar estereótipos e aproximar pessoas de diferentes territórios.
Raízes: O que podemos fazer como sociedade para adotar uma conduta antirracista?
Thaís: Educação. Conhecer a história brasileira é o primeiro passo para entendermos onde estamos no presente. Depois, olhar para os seus privilégios, e a partir deles pensar em ações reais que possam contribuir para que as desigualdades raciais diminuam no Brasil.
Raízes: E com relaçãoao turismo, como aproveitar viagens para colocar isso em prática?
Thaís: Em relação ao turismo brasileiro, conhecer as comunidades tradicionais, a história afro-brasileira e indígena ajuda a conectar-se com a história e cultura. E também colabora para gerar renda para as comunidades e empreendedores negros e indígenas, por exemplo.
Raízes: Sua empresa, a Conectando Territórios, criou a websérie Nzinga: Mulheres Viajantes. Conte um pouco dela pra gente.
Thaís: A websérie “Nzinga: Mulheres Viajantes” traz a história de mulheres negras que viajam pelo mundo, empreendem seus sonhos e projetos e expandem para outros territórios. Visa a quebra de estereótipos de mulheres negras, mostrando a pluralidade, buscando incentivar outras mulheres e trazer referências para o universo do turismo.
Nzinga, foi uma rainha africana, angolana que lutou no século XVII contra o colonialismo português, buscando a autonomia de seu povo.
Raízes: Por que você resolveu criá-la?
Thaís: Porque quero trazer histórias de outras mulheres negras e mostrar a multiplicidade de todas nós. E também porque sempre viajei e era a única mulher negra nos hotéis pelo mundo. Nunca me reconheciam como brasileira, pois sempre tinham referências de brasileiras brancas.
Além de perceber a invisibilidade de pessoas negras no universo do turismo, que, ainda bem, está mudando aos poucos, a partir de 2010 comecei a encontrar outras mulheres que nem eu pelo mundo e passei a entrevistá-las para conhecer suas histórias.
A ideia era trazer histórias de lugares que existem estereótipos em torno deles, como a Nigéria por exemplo. Então, o que quero é desmistificar as crenças e trazer outras perspectivas e vozes para o turismo.
Raízes: Como funciona a curadoria para escolher as entrevistadas?
Thaís: Comecei pelas minhas amigas que são referências para mim, e que têm histórias de vida incríveis. Mas a ideia principal é focar em mulheres com as mesmas características: que tomam as rédeas de suas vidas e empreendem seus sonhos pelo mundo.
A websérie “Nzinga: Mulheres Viajantes” foi lançada em 2020 e conta com 3 episódios. Enquanto busca novas entrevistadas e patrocinadores ou apoiadores para o projeto, Thaís está oferecendo, neste momento de pandemia, o Tour Virtual da Pequena África, um projeto de turismo étnico que busca entender o contexto da história que nos levou até os dias de hoje.
Durante a conversa, a Thaís nos indicou outros conteúdos, portais e referências de autores relacionados ao tema. Fica aqui a dica pra você também conhecer:
YouTube Conectando Territórios: é o canal oficial da agência da Thaís, de Turismo de Base Comunitária, que busca conectar pessoas à memória, cultura e história afro-brasileira e de comunidades tradicionais como quilombolas e comunidades urbanas.
Portal Geledés – Instituto da Mulher Negra: organização da sociedade civil que se posiciona em defesa de mulheres e negros por entender que esses dois segmentos sociais padecem de desvantagens e discriminações no acesso às oportunidades sociais em função do racismo e do sexismo vigentes na sociedade brasileira.
Portal Alma Preta: agência de jornalismo especializado na temática racial do Brasil. O conteúdo é diversificado, com reportagens, coberturas, colunas, análises, produções audiovisuais, ilustrações e divulgação de eventos da comunidade afro-brasileira.
Algumas referências de autoras e autores de livros das diversas áreas: Beatriz Nascimento, Helena Teodoro, Abdias Nascimento, Silvio Almeida, Milton Santos e Lélia Gonzalvez.
Estudar, conhecer e se aprofundar na história é importante para que os erros não voltem a acontecer. É preciso refletir para mudar de atitude. É pensando nisso que a Raízes topou participar de alguns encontros virtuais de treinamento antirracista, desenvolvido pelo Sistema B, em parceria com o Instituto de Identidades do Brasil. Você está conosco nessa luta?