Aqui na Raízes Desenvolvimento Sustentável, acreditamos que cada projeto é uma oportunidade de fortalecer conexões, construir narrativas significativas e promover mudanças reais. Um dos aspectos centrais do nosso trabalho é a escuta ativa: ouvir o que as pessoas têm a dizer – de maneira aberta, respeitosa e transformadora. Nesse contexto, surge uma questão importante que nos acompanha em avaliações, entrevistas e pesquisas: devemos ou não identificar os entrevistados?
Bem que queríamos que essa resposta fosse simples. Ambas as abordagens – identificada e anônima – trazem benefícios e desafios. Decidir por uma ou outra, ou até mesmo pela combinação das duas, exige sensibilidade, planejamento e clareza sobre os objetivos da avaliação ou da entrevista. Mais do que isso, é uma decisão que reflete valores, como confiança, transparência e empatia.
Identifica ou não? Combinando perspectivas
Manter os participantes anônimos é uma prática comum em algumas avaliações. Ele pode estimular a sinceridade, especialmente em temas sensíveis. Pessoas avaliadas e entrevistadas se sentem mais à vontade para compartilhar opiniões sinceras quando sabem que suas respostas não serão vinculadas às suas identidades. Isso reduz medos de julgamentos ou represálias, criando um espaço de fala mais seguro.
No entanto, o anonimato tem seus limites. Em contextos organizacionais ou comunitários, quando problemas importantes são apontados, como podemos resolvê-los sem saber de onde vêm? A identificação pode ser essencial para personalizar soluções, fortalecer laços e dar continuidade a ações transformadoras. Por outro lado, quando exigimos que as pessoas se identifiquem, corremos o risco de perder nuances valiosas, já que algumas respostas podem ser filtradas pelo receio de abrir opiniões contrárias ou críticas mais duras.
Um grande dilema, não é mesmo?
Na Raízes, temos explorado abordagens híbridas que conciliam o melhor dos dois mundos. Em nossas avaliações internas, por exemplo, usamos um formato combinado: aplicamos uma pesquisa identificada para acessar informações específicas e direcionar ações, mas também utilizamos ferramentas anônimas para captar impressões mais espontâneas e sinceras.
No Projeto de Desenvolvimento do Turismo no Quilombo São Domingos em Paracatu, Minas Gerais, realizamos uma pesquisa online anônima com perguntas objetivas de múltipla escolha para mapear índices de satisfação em detalhes, como tempo das reuniões, qualidade do lanche ou didática dos instrutores. Paralelamente, conduzimos momentos qualitativos que valorizam o contato humano e a escuta sensível: rodas de conversa em que os participantes compartilham percepções e feedbacks, tanto positivos quanto negativos, de maneira construtiva, promovendo o exercício de governança e convivência.
Esse equilíbrio é fundamental para que nós conseguíssemos analisar o coletivo sem perder de vista o individual. Para criarmos espaços onde as pessoas se sintam seguras para falar o que realmente importa, mantendo a conexão às soluções que emergem dessas falas.
Escuta ativa e a força da representação simbólica
Outra característica do nosso trabalho é a forma criativa de representar os participantes. No estudo que lançamos recentemente, trouxemos um toque de simbolismo ao identificar os entrevistados como frutas. Cada perfil recebeu uma representação humanizada, que foi usada ao longo do material para conectar as respostas a um imaginário visual leve e envolvente.
Essa abordagem aparece ainda no estudo da Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (ABETA) em parceria com o Ministério do Turismo sobre o perfil do turista de aventura e do ecoturista no Brasil, que usa pássaros para categorizar perfis. Também na tese de doutorado da Mariana Madureira, fundadora e diretora executiva aqui da Raízes, que utilizou destinos turísticos para identificar influenciadores de viagem.
Essas escolhas criativas ajudam a dar voz às pessoas de forma simbólica, preservando sua identidade enquanto enriquecem o impacto narrativo do estudo.
Escolher entre identificar ou não identificar os entrevistados não é apenas uma decisão metodológica, é um exercício ético que reflete nossos compromissos com as pessoas e comunidades que nos confiam suas histórias. Ao equilibrar anonimato e identificação, não estamos apenas coletando dados, estamos criando ambientes de escuta genuína, construindo confiança e abrindo caminhos para transformações sustentáveis.
Nossa prática é baseada na ideia de que cada fala, seja anônima ou identificada, carrega uma potência única. Por isso, seguimos combinando estratégias, explorando novas formas de escutar e sempre respeitando o protagonismo de quem participa das nossas avaliações. Afinal de contas, acreditamos que a escuta ativa é feita para que cada voz tenha um papel essencial na nossa jornada coletiva.