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Projeto social doa e conscientiza sobre uso de coletor menstrual na Amazônia

Escolhas? Entendo quando e como vocês me falam de escolhas. Mas eu não tive muito o que escolher. Me casei aos 13 anos, sem escolha. Uma realidade que é a de muitas, se não todas, as mulheres com as quais convivo desde que me lembro. Ainda assim, foi melhor para mim. Pode parecer um pensamento horrível e acomodado, mas àquela época eu passava por outros tipos de violência familiar, então foi o melhor mesmo, ainda que eu pudesse escolher. 

Tive três filhos, ainda bem jovem. E foi só quando eles cresceram um pouco que eu pude pensar em voltar a estudar. E eu me impus e conversei com o meu parceiro sobre essa possibilidade. Parceiro, foi isso que ele se tornou depois que eu pude convencê-lo a me apoiar. Ele entendeu que meus estudos não significavam que eu iria traí-lo ou deixa-lo, mas que eu iria me encontrar. 

Hoje sinto finalmente que tomei as rédeas da minha própria vida. Hoje, claro que com muitas limitações, posso falar e fazer certas escolhas que antes não poderia. 

Esse depoimento é baseado em fatos que ouvimos de uma mulher quilombola durante a expedição do Dona do meu fluxo pela Amazônia. Esse projeto social é uma iniciativa da Raízes em parceria com a Korui, e apoio da Natura. Fizemos quatro workshops doando e conscientizando mulheres a respeito do uso do coletor menstrual. Acima de tudo, falamos sobre saúde feminina, o autoconhecimento sobre o corpo, sexualidade, entre outras questões.  

 

O trajeto 

Foi a segunda edição do Dona do Meu Fluxo. No ano passado, visitamos o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Neste ano, percorremos um trecho da Amazônia, especificamente em quatro localidades do Pará: Cametá, Santana de Mocajuba, Boa Vista do Acará e Cotijuba. E queremos muito mais! Nesse projeto piloto impactamos apenas 20% da ação que está prevista. 

“É uma iniciativa a ser continuada, foi um piloto muito bem-sucedido. Um teste de metodologia, logística e de público. Adaptamos o modelo desenvolvido em 2017 e aplicado primeiramente no Jequitinhonha com toda uma lógica para realidade da Amazônia, logística, e direcionamento para o público – que é basicamente mulheres ribeirinhas que trabalham com atividades extrativistas e coletoras”, explica Mariana Madureira, diretora da Raízes. 

 

Quem são essas mulheres 

Em todas as comunidades ribeirinhas visitadas as mulheres têm um papel bastante ativo na colheita e fornecimento de insumos para a produção da linha de produtos Ekos, da Natura. Por conta disso também é que buscamos e contamos com o apoio da empresa nesse projeto social.  

Comparando com a primeira edição, o desconhecimento do público em relação ao coletor menstrual foi maior, mas a abertura para experimentar também. As mulheres foram muito participativas e opinaram sobre os assuntos levantados, e contaram de muito casos que inclusive mexeram muito com a equipe envolvida. Um deles, inclusive, citado no início desse texto. 

 

Mas a história não para por aí… 

Nunca sabemos quem sai mais transformado, se as mulheres impactadas pelo projeto ou nós, que o idealizamos. Com a força dessas mulheres do Brasil afora, pretendemos levar o Dona do Meu Fluxo para muito mais estados. Nós da Raízes com a nossa expertise no diálogo com comunidades, e as mulheres da Korui com a doação dos coletores. Juntas e com a ajuda de parceiros que tem os mesmos ideais, vamos estimulando o empoderamento de mulheres! 

Só podemos agradecer por mais essa edição! E fiquem ligados pois registramos boa parte da ação e divulgaremos mais depoimentos e fotos em breve.