Uma comunidade é formada por pessoas com afinidade entre si, sob a mesma influência cultural e histórica, e geograficamente convivendo no mesmo território. Pode variar de tamanho, seja pelo número de pessoas ou pelo espaço, de acordo com essas características. Mas o que pode variar também é a necessidade de cada comunidade dentro desse contexto.
É por isso que, ao pretender trabalhar com uma comunidade, existem passos prévios antes do agir. Para ações efetivas não é só “chegar chegando”, como se diz popularmente. É um processo que exige entendimento, dedicação e, claro, tempo! Por isso, aí vão algumas dicas divididas em três etapas, com base em nossas experiências, para auxiliar nesse caminho. Veja:
– Passo 1: Ouça o outro
“Ouvir é ouro, falar é prata”. “Temos dois ouvidos e uma boca, que é para ouvir melhor”. Nem sempre todos os clichês fazem sentido, mas quando fazem, precisamos exalta-los, certo? É esse o caso das expressões que se referem a validade de ouvir antes mesmo de falar. Ouvindo conseguimos entender muitas coisas. E entender é uma das premissas de qualquer projeto social, especialmente quando falamos de necessidades.
E é sobre necessidades que falaremos a seguir.
Nem sempre o que enxergamos, de fora, como primordial, é o que a comunidade precisa. Outras vezes até podemos enxergar com razão essas carências, mas esquecemos de olhar para outros fatores envolvidos.
Um exemplo muito claro é o desejo de um agricultor que, ao chegar a uma comunidade tinha o desejo de plantar tomates para estimular o desenvolvimento local. Até o orientaram, sem muita ênfase, de que o melhor era ter outro tipo de plantação. Ainda sim ele insistiu em plantar tomates e teve seu desejo satisfeito. Meses depois, prestes à colheita, sua plantação foi infestada por pragas e se perdeu. Ele questionou porque ninguém o avisou antes e a resposta foi: “você disse que queria plantar tomates, plantamos tomates”.
Poderia ser ficção, mas isso aconteceu mesmo. A história foi citada por Ernesto Sirolli em sua palestra para o TEDx, ao contar sobre sua atuação em projetos de cooperação em países africanos. Em tom engraçado, ele propõe que o primeiro passo é escutar as pessoas que você quer ajudar e explorar seu próprio espírito empreendedor.
– Passo 2: entenda que desejos são diferentes de necessidades
Um dos aspectos nesse tópico é de que muitas vezes o que as pessoas querem pode ser um desejo individual e não coletivo. Já vivenciamos, por exemplo, doações feitas por patrocinadores bem-intencionados tornarem-se objeto de disputa entre as pessoas. Ou seja, uma busca pela satisfação de alguma(s) pessoa(s) ao invés de um bem coletivo apropriado e usado por todos. Por isso, como empresa apoiadora, patrocinadora ou idealizadora de um projeto, isso tem de ser pensado para não acabar “atrapalhando” ao invés de ajudar a comunidade. É preciso pensar em ações que irão frutificar, dar um resultado de médio e longo prazo, e não só imediato.
Outro aspecto é que ao responder do que precisam as pessoas associam necessidades a bens materiais, palpáveis. “Um espaço cultural, um centro de desenvolvimento, uma escola, maquinário etc.”, itens tangíveis. Mas na maioria dos casos o que elas precisam antes desses bens tangíveis é conhecimento, é saber como fazer acontecer, desenvolver habilidades – e nesse processo de descoberta, até mesmo os bens materiais apontados no início podem mudar de rumo. As pessoas descobrem que o que elas realmente precisam é diferente do que elas desejavam antes de refletirem apropriadamente sobre o tema.
– Passo 3: Mantenha o foco
Depois de ouvir e entender o que a comunidade realmente precisa, é hora de definir o projeto, o plano de ação para, então, colocá-lo em prática. Por isso, outra dica muito importante nesse caminho é manter o foco. Quando ouvimos, acabamos descobrindo, sim, um monte de necessidades. Mas fatores como prioridade, tempo e investimento influenciam diretamente nessa decisão. Por isso, antes que o projeto se perca entre tantas possibilidades, é mais assertivo focar no que é viável, possível e que deve gerar o resultado mais promissor dentro daquela comunidade – seja ele qual for.
Em cada um desses três passos há uma gama de metodologias e técnicas para chegar até a ação em si. Então é importante contar com colaboradores e parceiros qualificados para aproveitar o melhor desse diálogo tão valioso.
Vamos ficando por aqui. Se tiver mais dicas, quiser compartilhar um caso com a gente ou mesmo tirar dúvidas, conte conosco 😉