Skip to main content

Precisamos falar sobre a mulher no turismo

Por 24 de março de 2017março 26th, 2017Artigos, Turismo

Estamos em março, mundialmente considerado mês da mulher. “Não queremos rosas, queremos igualdade” foi nosso mantra nas redes sociais e nas relações pessoais. O Brasil tem feito bonito em alguns pontos, como o destaque nas publicações científicas femininas ressaltado pela Forbes. Mas ainda tem índices vergonhosos de violência: 1,4 milhões (3%) de mulheres brasileiras do total sofreram espancamento ou tentativa de estrangulamento e 1% levou pelo menos um tiro em 2016.

Os dados são de uma pesquisa do Datafolha divulgada no último dia 8, o Dia Internacional da Mulher. Os números mostram ainda que 22% das brasileiras sofreram ofensa verbal no ano passado, um total de 12 milhões de mulheres. Outras 10% sofreram ameaça de violência física; 8% ofensa sexual; 4% ameaça com faca ou arma de fogo. Triste realidade.

Na Raízes trabalhamos de forma muito integrada com o turismo, uma atividade humana de grande poder transformador para o bem e para o mal. Todo grande poder tem suas grandes responsabilidade e ambiguidades, não é mesmo?

 

E como turismo vem apoiando (ou não) a diminuição das desigualdades de gênero?

 

Existem várias faces desse debate. Uma muito importante diz respeito a mulher no mercado de trabalho, já que ainda nossos salários são inferiores ao dos homens no mundo inteiro. E isso não é diferente no turismo.

Esse setor tem, inclusive, questões trabalhistas complexas, independente de gênero. Subemprego em hotéis, restaurantes e cruzeiros tem sido tema recorrente de estudo e protesto de entidades de classe. E como sempre, para as mulheres a situação ainda é um pouco pior.

Mas para focar em um único e imenso problema, trataremos da exploração sexual.

 

O turismo sexual e a mulher como atrativo

 

Até poucos anos atrás, a nossa publicidade oficial de turismo no Brasil, como os cartões postais exibia mulheres seminuas usando biquínis fio-dental nas praias cariocas ou fantasias de carnaval. Mas em 2009, a deputada estadual Alice Tamborideguy elaborou um projeto de lei que proibiu desde então a veiculação, exposição e venda de postais turísticos com fotos de mulheres em trajes sumários que não mantenham relação ou não estejam inseridas na imagem original dos cartões-postais.

Felizmente o mundo evoluiu. De modo geral, as mulheres ganharam mais voz e estão gritando cada vez mais alto. O reflexo disso está não só no turismo, mas na publicidade de forma geral. Afinal, grandes marcas de cerveja, como a Skol – que fez uma campanha totalmente desconstruída do padrão “mulheres gostosas que servem cerveja aos homens” – e até mesmo a Rede Globo – emissora de maior audiência no país que mudou a tradição de décadas da Globeleza nua, com pintura corporal, e estereotipada – se ligaram de que era preciso se atualizar.

Recentemente, ao participar do Transforming Tourism – Tourism in the Agenda 2030, conheci Rebecca Amstrong. No evento, tanto eu quanto ela tivemos a oportunidade de debater e co-criar a Declaração de Berlim como sociedade civil.  Rebecca gerencia as mídias sociais da Equality in Tourism, uma organização independente e sem fins lucrativos que se dedica a garantir que as mulheres tenham uma voz igualitária e compartilhem dos benefícios do turismo globalmente.

Conhecê-la pessoalmente foi a grande inspiração para tratar desse tema hoje. Ainda mais depois de ler o artigo desenvolvido por uma das diretoras da organização, Daniela Moreno Alarcón, para o compêndio sobre como o turismo pode contribuir (ou não) para os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Um trecho do texto diz:

“A Agenda 2030 constitui uma oportunidade para posicionar a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres como um componente essencial na criação e implementação de políticas públicas. (…) Para alcançar um turismo verdadeiramente sustentável/responsável, todos os orçamentos, declarações e conhecimentos devem estar conscientes de que a igualdade entre os sexos e o empoderamento das mulheres é uma questão central. Não é um extra. Pelo contrário, faz parte integrante da iniciação, do planejamento, da execução e do monitoramento e avaliação de toda atividade, projeto ou programa sobre turismo ou relacionado a ele”.

O ODS 5 ressalta a diminuição da desigualdade de gênero como uma grande prioridade para a agenda 2030. E o turismo? Fica a reflexão.

Por Mariana Madureira