Skip to main content

Um olhar para territórios: práticas que fortalecem comunidades

A partir da minha experiência como gestora e facilitadora de projetos sociais, tenho percebido três ações importantes no trabalho com desenvolvimento territorial: focar e fortalecer as relações; sonhar coletivamente e integrar o sentir.  Mas antes de abordar estes pontos, quando penso em território, gosto de lembrar do geógrafo brasileiro Milton Santos (1994), que diz que o território não é somente as suas características físicas, mas também os seus componentes culturais e simbólicos que são construídos a partir das interações dinâmicas entre o ser humano e o espaço. Desta forma, o território desempenha um importante papel na construção da identidade das pessoas.

Focar e fortalecer as relações

Compreendendo o território a partir de suas características físicas e simbólicas, percebo que as conexões são potencializadoras e é a partir delas que surgem as respostas.  Como somos seres sociais, devemos focar na construção de uma comunidade forte, em que devemos construir estruturas de pertencimento, saindo do individualismo para um modo de vida interdependente e conectado. 

Desta forma, os relacionamentos são a porta de entrada de um determinado território e comunidade, em que o objetivo é também perceber as mudanças na qualidade dos relacionamentos entre as pessoas, pois este é um fator essencial dentro do processo de desenvolvimento. Aqui no projeto de Desenvolvimento Territorial em Barão de Cocais, optamos por metodologias participativas que promovem o diálogo e as trocas de experiências, além da escuta atenta e a comunicação não violenta, como forma de construir relação de confiança e o fortalecimento coletivo.

 

Sonhar Coletivamente

Já dizia Raul Seixas: “Sonho que se sonha só é só um sonho e sonho que se sonha junto é realidade”. O sonho é um importante motivador, é o movimento da alma. Quando sonhamos levamos nossa imaginação para aquele momento no futuro para que, então, possamos começar a construí-lo. 

Toda realidade foi sonhada um dia. O sonhar é também uma etapa importante para os projetos. Quais sonhos você tem sonhado? Quais são os sonhos da sua comunidade e território? Quando escutamos os sonhos de todas as pessoas experimentamos uma maior conexão, pois nos abrimos para aquilo que é o desejo daquele grupo e criamos uma visão compartilhada. É um momento que percebemos nossos pontos em comum e o que é importante para o outro. 

Ailton Krenak diz que o sonho conecta a realidade cósmica com a vida cotidiana. A metodologia colaborativa Dragon Dreaming aborda o sonhar como uma das 04 etapas de um projeto, e ela também tem sido utilizada como uma das tecnologias sociais durante este projeto em Barão de Cocais.

Integrar o sentir

Falar de relações é falar de pessoas, em que a complexidade do sujeito, pede um olhar mais abrangente: enquanto ator social – ou seja, como responsável pelas próprias transformações individuais, relacionais e coletivas – e também da perspectiva do sentir. 

Somos seres com sonhos e sentimentos, logo, o afeto e as emoções são essenciais e devem ser cuidadosamente consideradas e apreendidas. Portanto, quando as emoções aparecem, estão sinalizando alguma coisa e precisam de espaço, isso não quer dizer que é preciso se limitar a elas, mas sim integrá-las, já que as emoções são as bases de nossas ações: “Não é a razão que nos leva a ação, mas emoção. E ela não se expressa apenas falando, vive-se com todo o corpo” (Maturana,1998). 

O que faz sentir faz sentido. E o que me afeta, me transforma. Portanto, as emoções também mostram um caminho.  Dentro de um trabalho de transformação social deve haver um esforço para identificar as emoções (nossas e dos outros) e isso envolve, muitas vezes, ter que lidar com medos, raivas e frustrações.

Atualmente para o projeto de Desenvolvimento Territorial em Barão de Cocais, estamos trabalhando com as empreendedoras locais e a Associação Comunitária do Socorro, em que se optou por encontros coletivos temáticos – como forma de reforçar práticas e conceitos. Paralelamente, as beneficiárias recebem assessoria individual, tendo como objetivo a ação personalizada, nas potencialidades e necessidades de cada empreendedora.

Por Maria Cavalcanti

 

Referências

KRENAK, A. A vida não é útil. Companhia das Letras: Rio de Janeiro, 2020.
MATURANA, H. Emoções e linguagem na educação e na política. Editora UFMG, 1998.
SANTOS, M. Território globalização e fragmentação. São Paulo: Hucitec, 1994.
SEIXAS, R. Prelúdio. Álbum Gita, 1974.