Muito utilizada nos últimos anos, a ideia de Patrimônio Afetivo tem vindo à tona com frequência cada vez maior – uma espécie de resposta às lacunas existentes nos pensamentos de patrimônios culturais materiais e imateriais. O conceito nasce como uma resposta sobre a representatividade dessa herança cultural para a comunidade que a circula. Ou seja, não apenas pensar nas imponentes edificações coloniais como representação de uma cidade, ou alguma manifestação religiosa, mas sim como as pessoas destes locais reagem e se conectam, positivamente ou não, com esses bens.
Sua interface ocorre entre a preservação do passado e a construção de um futuro sustentável levando em consideração as percepções particulares e coletivas. Neste contexto, o conceito desempenha um papel diversificado, envolvendo objetos que vão desde cartas envelhecidas pelo tempo, artefatos culturais transmitidos através das gerações, indo até a percepção de uma comunidade sobre sua paisagem natural.
Esses itens não apenas carregam histórias, memórias e valores, mas também servem como elo entre as gerações, promovendo uma compreensão mais profunda acerca dos indivíduos e seus territórios. Além disso, o Patrimônio Afetivo abrange locais enraizados em nossa memória emocional que possuem significados históricos, culturais e naturais; servem como marcos identitários para comunidades.
Manter viva a Memória e a História de um povo
A preservação desses locais não é apenas uma questão de conservação histórica, mas também uma fonte de sensibilização e inspiração para práticas sustentáveis, fortalecendo a conexão entre as pessoas e o ambiente. O compartilhar dessas histórias, valores e lugares de nosso Patrimônio Afetivo, é possível inspirar ações, também, para um desenvolvimento econômico, garantindo que as próximas gerações possam apreciar conexões emocionais e culturais que são significativas do hoje, usufruindo-as para que haja produção de novas redes de renda.
Para Olender (2017), a afetividade no Patrimônio pode ser mapeada desde a inclusão do termo nos processos de tombamento no Brasil, como pesquisas para registros, quanto no processo de significação e ressignificação de espaços. Porém, o autor ressalta que mesmo com a relevância do valor afetivo, sendo fundamental para compreender a importância de um bem para um grupo social, muitas vezes serve como argumento de desqualificação do bem pelo poder público. Ou seja, ainda é necessário trabalhos que norteiem a relação intangível.
Os afetos podem ser individuais ou coletivos, mas, mesmo aqueles considerados individuais são afetos por ou para alguém ou alguma coisa. Envolvem certa experiência que se realiza, de alguma forma, em uma dimensão coletiva (OLENDER, 2017, p. 339).
Logo, pode-se notar como a preservação do Patrimônio Afetivo é importante para a construção da identidade cultural de uma comunidade, pois ajuda a manter viva a memória e a história de um povo, além de contribuir para o fortalecimento dos laços sociais e para o desenvolvimento de uma consciência coletiva sobre a importância da preservação do patrimônio cultural.
Abrindo portas para mudanças efetivas
Olender ressalta como o “valor afetivo este que considero como o principal indicador social da relevância histórico-cultural de um bem para a sua comunidade” (2017, p. 324). Portanto, o conceito não se limita à sentimentalidade, mas sim como uma ferramenta dinâmica para promover sensibilização, reconhecimento e desenvolvimento socioeconômico.
Mapear o Patrimônio Afetivo de uma comunidade, possibilita a construção de um futuro em que o respeito pelo histórico, social, econômico e ambiental esteja incorporado às práticas cotidianas. Afinal, é o potencial de reconhecimento individual que reflete ao coletivo, a reafirmação de uma comunidade em seu espaço na história.
Dessa forma, nessa convergência entre passado e futuro, encontramos fontes de inspiração e responsabilidade para moldar um mundo mais equilibrado e sustentável. Reconhecer a afetividade de uma comunidade com seu patrimônio abre portas para que as mudanças e as salvaguardas sejam, de fato, efetivas.
Por André Vaz