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Lusofonia e pobreza menstrual: vivências e parceria de mulheres do Brasil e de Cabo Verde

Foi pelo Instagram do projeto Dona do Meu Fluxo (DMF) que recebemos uma mensagem de Sandra Lima, de Cabo Verde, África: “Somos um projeto de empoderamento da mulher em Cabo Verde. Haveria a possibilidade de apresentarmos a nossa campanha?”. Logo passamos a refletir sobre, além da lusofonia, o que Brasil e Cabo Verde partilham sobre a pobreza menstrual e a relação da mulher com a sociedade.

Pobreza menstrual é a ausência de recursos de meninas e mulheres no período da menstruação, seja financeira para acessar produtos, seja pela falta de acesso à educação necessária para gerenciar sua higiene. Foi com o objetivo de reduzir essa desigualdade em regiões vulneráveis do Brasil que surgiu o DMF, idealizado pela Korui em parceria com a Raízes.

Assim, o segundo passo desse contato lusófono – formado por povos e nações que compartilham a língua e cultura portuguesas – foi marcar um papo virtual com as idealizadoras do Nha Menstruação (Minha Menstruação). A campanha criada por Sandra Lima e Ekvity dos Santos é uma das iniciativas da ONG Womenise.it, espaço de empoderamento feminino e networking através de reuniões, palestras, coaching para empreendedoras etc. em Cabo Verde.

 

A Nha Menstruação

“Lembro bem dos meus pais quando tive minha primeira menstruação. Eles tiveram muita dificuldade em me explicar o que estava acontecendo e em dizer que era algo realmente natural. E é nisso que queremos ajudar as meninas… explicar que é algo natural, que é vida. Levar educação menstrual para as escolas. O primeiro objetivo é que todas as meninas tenham acesso a um kit sustentável, pensos (absorventes) reutilizáveis. Defendemos que os normais, descartáveis, não vão resolver os problemas. O segundo ponto é levar essa educação para as escolas, para que os professores estejam também preparados para debaterem esse tema também com os meninos.  A sociedade é formada por meninos e meninas”, explica Sandra.

A Nha Menstruação surgiu há mais ou menos um ano, entre o desenho e implementação do projeto. Foi em março que começaram as primeiras ações.  Por conta da pandemia enfrentada pelo novo coronavírus, elas contam que tiveram que reformatar toda a campanha. Antes, era focada somente nas escolas, com o objetivo de levar o assunto sobre menstruação sem tabu, e falar sobre a relação das meninas com o corpo, aceitação etc.

“Mas tendo em conta a Covid-19, a necessidade urgente das mulheres mais pobres que não tem acesso a pensos (absorventes) higiênicos, tivemos que lançar uma campanha junto com outro movimento, com a qual distribuímos quase três mil kits higiênicos na Ilha de Santiago, sobretudo na capital, Cidade da Praia, porque essas mulheres e meninas não tem acesso, não têm como comprar esses produtos”, explica Ekvity.

Para o futuro, elas esperam implementar projetos de geração de renda para pequenas empreendedoras, mulheres costureiras, que comecem a produzir absorventes reutilizáveis, distribuir e vender. Depois de conhecer o DMF e conversar com as idealizadoras brasileiras, Luisa Cardoso (fundadora da Korui) e Mariana Madureira (co-fundadora da Raízes), elas estudam como também levar o acesso aos coletores menstruais para o país.

 

Brasil x Cabo Verde para além da lusofonia

Trecho de entrevista para emissora de TV de Cabo Verde sobre a ‘Nha Menstruação’. (Clique na imagem para ver a matéria)

A Korui hoje tem uma linha de absorventes de pano e os coletores menstruais, que são alternativas sustentáveis e duradouras. Os coletores menstruais em especial são o mote das doações para o Dona do Meu Fluxo. A cada 10 coletores vendidos pela Korui, um é doado para a ação.

A Raízes, entre 2015 e 2016, desenhou e implementou um projeto de turismo comunitário rural na Ilha de Santo Antão (o país é composto por 10 ilhas, sendo nove delas habitadas). Dentre as ações, estavam oficinas de capacitação para o turismo e sua produção associada. Tivemos a oportunidade de conhecer mais da cultura desse povo, tão próxima da nossa. “É um povo muito hospitaleiro”, relembra Mariana. Assim, essa conexão entre os países pode ser promissora inclusive na troca de experiências sobre o mercado.

Sandra e Ekvity encontraram o Dona do Meu Fluxo em pesquisas pela internet para saber o que outros países têm feito com relação à pobreza menstrual. “O Brasil é uma grande referência aqui em Cabo Verde, apesar de vocês nos conhecerem menos, nós conhecemos muito bem a realidade brasileira. E estamos muito próximos da realidade brasileira, tendo em conta vários fatores: temos vários brasileiros vivendo aqui em Cabo Verde, temos vários caboverdianos que estudam no Brasil, e vocês também têm uma grande influência aqui com a questão das novelas, da vossa televisão etc.”, conta Ekvity.

“Então nessas pesquisas sobre o que os outros países estão a fazer, todos os países da língua portuguesa, deparamos com vosso projeto, do qual nos identificamos completamente e achamos que podíamos trabalhar juntas nesse sentido também: de troca de experiências, de – já que vocês estão mais à frente, como é que vocês podem nos orientar e nos apoiar aqui em Cabo Verde para termos um sucesso e, quem sabe, trazer a vossa marca para Cabo Verde e trabalharmos juntas, junto com as meninas”, completa.

 

Próximos passos

Seguimos em contato! O sonho é desembarcar o projeto Dona do Meu Fluxo em terras africanas tão logo as condições sanitárias permitam! Enquanto isso, esperamos fazer uma live em julho entre os projetos para compartilhar essas informações para mais e mais mulheres lusófonas. “Para essa parceria, esperamos que haja uma grande sinergia, uma intensa aprendizagem, uma grande troca de experiência”, conta Sandra.

 

E é o que nós esperamos por aqui também! Acompanhe as novidades por aqui e em nossas mídias sociais, onde contaremos sobre os próximos passos.