Identificar lideranças comunitárias e potencializar o trabalho em rede é um dos trabalhos que desenvolvemos aqui na Raízes. E, entre 2012 e 2013, atuamos no Baixo São Francisco com o objetivo de oferecer condições para a promoção do desenvolvimento turístico de maneira sustentável. À época, atuamos em 12 municípios de Alagoas e elaboramos o Plano de Desenvolvimento e Segmentação do Turismo e Formação da Rede Empresarial Caminhos do São Francisco – projeto que fez parte do Programa de Dinamização do Turismo no Baixo São Francisco.
Mas como será que anda o projeto hoje em dia?
Para saber, conversamos com a Diretora Técnica do IABS, Jannyne Barbosa, que foi a Coordenadora Técnica e Gestora do APL Caminhos de São Francisco. Confira abaixo, a entrevista na íntegra.
Pode nos contar um pouco sobre o projeto e sua dinâmica?
O projeto começou em 2012 e foi até o início de 2016. O grande objetivo era o desenvolvimento territorial de 24 cidades através do turismo – ferramenta que na verdade começou a ser fortalecida pela vocação natural, pelo viés histórico, do cangaço. Alguns pólos que já eram trabalhados com turismo, como cânions, rios, etc. E ao redor do Rio São Francisco.
No ponto de vista da prestação de serviço, havia uma carência muito grande, porque a região era marcada pela cultura do cultivo de arroz e pela pesca, principalmente. Mas essas atividades, com toda a sua degradação, foram declinando. E o turismo surgiu como atividade econômica, alternativa e importante. Assim, o panorama geral do projeto teve 4 vieses:
– O planejamento do destino: entender o contexto do Rio;
– Quais eram as principais demandas: nesse contexto entender essa oferta, essa demanda;
– Proposição de desenvolvimento; e
– Zoneamento econômico voltado para a atividade turística, que propunha áreas de crescimento e não, considerando o território (Reserva – MONA movimento natural do São Francisco).
Então, todo o desenvolvimento era pensando nessa área de preservação, considerando a degradação da caatinga, a fragilidade ambiental, as dunas, a foz. Considerando essa realidade, esses cuidados precisavam existir.
E qual foi o papel da Raízes para esse projeto em especial?
A contribuição da Raízes foi em identificar as lideranças. Eram pessoas que conduziam ou conduziriam o turismo, protagonistas disso. Uma vez identificados esses líderes, a equipe trabalhou o empoderamento no sentido de atentar aos benefícios de trabalhar coletivamente. Empregaram uma metodologia específica de rede empresarial, espírito coletivo.
Esse foi um input muito grande para trazer e consolidar o que a gente entendia do projeto, deixando grandes legados para a região. Conseguimos visualizar um começo, meio e fim, e ter claro e presente no território a instância de governança, que, depois de fortalecida, pôde sobrar a nível Municipal, Estadual e Federal problemáticas da região e brigar por ela.
Tivemos a estratégia e mantivemos a sustentabilidade do projeto. Tanto é que em 2014, ele ganhou o prêmio nacional Celso Furtado. O recurso que conseguimos do prêmio foi transferido para a Associação para começarmos a estruturar minimamente o comércio. Foi muito bem feito, consolidado e conseguiu fazer com que, depois da criação da rede, houvesse um trabalho de incentivo.
Houve a definição da diretoria e os papéis de quem deveria fazer o quê. Na prática, não foi bem isso que aconteceu, mas muito por dificuldade desses empreendedores em assumir esse conceito de trabalho coletivo. A maioria é formada por pequenas empresas, microempresas. Então, uma única pessoa vende, administra, organiza, assume muitos papeis. Então, a associação deixava de ser prioridade e virava um trabalho complementar. Mas eram escolhas, até por quem se predispôs. Não digo que era falta de vontade, mas sim por realidade do dia a dia mesmo.
Qual é o cenário atual do projeto? Essa rede se mantém?
Estamos em 2018, então o projeto acabou em 2016. A instância continua existindo e a diretoria acabou de ser renovada. Nessa renovação, acabei acompanhando um pouco por conta de outro programa, o PAPL, com a estratégia de fortalecer as cadeias produtivas. A gente voltou com isso com proposta de resgatar a associação, renovando a diretoria. Precisa assumir quem de fato vai se dedicar para conduzir esse trabalho. Estão articulando, tentando fazer conceitos bem definidos, atividades, etc. A diretoria começou a puxar essa agenda positiva e continua em atividade, com os “pés no chão” que são necessários.
Com esse resgate, foi estabelecida a rede. A Rede, até onde o projeto desenvolveu o acompanhamento de perto, de apresentar a estância, dizer os benefícios, tinha em torno de 25 empresas. Quando o projeto acabou, a equipe executiva saiu de cena. Então alguns começaram a se questionar e acabou se desmobilizando um pouco. Agora com esse resgate, no último mês de abril, um novo movimento começou com outros vetores, inclusive. Mas considero que 70% das empresas já estavam envolvidas, 30% são novas.
Assim, mais uma vez, pudemos ter ideia dos resultados, mudanças e reflexos de nossa atuação Brasil afora. Esperamos ter contribuído e continuar espalhando nossos conhecimentos por aí, para desenvolver e contribuir cada vez mais projetos, especialmente de turismo sustentável, nesse país riquíssimo que é o nosso.
Acreditamos no potencial do trabalho coletivo, e dialogar e empoderar a comunidade faz toda a diferença. Vamos nessa!