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Por que democracia e desenvolvimento sustentável andam juntos?

O tema do momento no Brasil, dentre outras pautas é a democracia. Isso porque nesse momento no país algumas escolhas do Governo Federal – como ocultar e manipular os números de mortes por conta da Covid-19, dentre outras – parecem ser uma ameaça ao direito de acesso à informação, aos direitos humanos e um flerte com a ditadura militar. Há quem elogie esse período histórico, justificando-o com o chamado “milagre econômico”. Mas será que ele existiu de fato? Foi um desenvolvimento sustentável no Brasil?

 

A Modernização da Miséria

Esta ilustração faz parte do estudo “O Desenho da Reforma Agrária na Cidade”, por Julia O’Donnell. Mostra a formação das favelas durante o período ditatorial:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“As mudanças ocorridas a partir do ‘[…] governo de Juscelino Kubitscheck (1950) seguido do golpe militar de 1964, transformaram o Brasil de agrário-exportador para urbano-industrial’ (ZUQUIM, 2007). Isso representou uma concentração de capital nas cidades e expôs para os moradores do campo que o urbano apresentava todas as soluções buscadas no ambiente agrário como o acesso à educação, saúde e trabalho. Entretanto, o crescimento urbano acompanhava o crescimento da pobreza. O mercado formal não comportava todos os trabalhadores trazidos pelo êxodo rural, sobretudo após as duas crises do petróleo em 1973 e 1979.

Favelas e cortiços passaram a aparecer na paisagem urbana, deixando o campo relativamente vazio. O desemprego e a exclusão social aumentaram a violência, e agora, a cidade já não significava a qualidade de vida que foi vendida”, conta.

 

Isso vai contra as premissas do Desenvolvimento Sustentável, que prega que se deve suprir as necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade de atender as necessidades gerações futuras. Ou seja, um modelo que assegura o desenvolvimento econômico, sem esgotar os recursos para o futuro.

 

O disparate da desigualdade

Pedro Paulo Bastos, professor e pesquisador da Unicamp, em entrevista à Exame, explica que “O ‘apartheid urbano’ brasileiro acontece nesse período. A população pobre cresce nas periferias sem acesso aos serviços público e aos melhores empregos”. Marcelo Neri, diretor da FGV Social, complementa que “com o crescimento econômico foi necessária mão de obra qualificada, mas com o baixo investimento em capital humano, ela não estava disponível. Na ditadura, cresceu a distância entre a renda dos mais escolarizados e os mais pobres”.

Mariana Madureira, da Raízes, trata o tema das favelas como reflexo das desigualdades do Brasil neste artigo, destacando sua formação por negros libertos da escravidão sem nenhum tipo de suporte ou reparação do Estado e, já na segunda metade do século XX (o período desse “milagre econômico”), “um grande contingente populacional de todo o país, mas sobretudo da região nordeste, migrou (e ainda migra) para as capitais fluminense e paulista, em busca de oportunidades de trabalho e melhoria de qualidade de vida”.

A desigualdade já existia antes e continuou a existir depois da ditadura militar. Uma diferença importante em relação ao período democrático é a liberdade de imprensa e a circulação de dados confiáveis, que nos permite entender e agir sobre essas questões sociais, ao invés mascará-las para o conforto e privilégio de alguns. Se quiser saber um pouco mais sobre dados omitidos durante a ditadura no Brasil, sugerimos ouvir este Mamilo’s podcast sobre o tema!

A reflexão que fica é: se ainda não resolvemos a desigualdade que esse modelo de desenvolvimento gerou e suas consequências, será que o Brasil daria conta de passar por isso de novo?

 

 

Crédito da imagem: Ilustração por Julia O’Donnell.