O artesanato, trabalho manual, de processo longo, único e dedicado, denota ser o oposto da industrialização. E de fato o é, especialmente se pensamos na exclusividade de um trabalho artístico, por exemplo. Mas cada caso é um caso, e um não anula o outro, afinal cada um tem seu papel na sociedade e no desenvolvimento do território. Indústria e artesanato podem sim viver em harmonia e, inclusive, contribuir um para o outro.
É o caso de uma iniciativa da Cimento Nacional, antiga Brennand. Hoje eles reaproveitam na reciclagem boa parte do material que descartam com a produção. Um exemplo é a dos sacos de cimento, que serviram como matéria-prima para a fantástica transformação que passava pelas mãos de artesãs locais, transformando-se em bolsas, lixinho de carro, porta notebook, etc. no projeto ArteCarste.
Com patrocínio da Brennand e da Tam, em parceria com o Circuito das Grutas, o projeto nasceu no primeiro semestre de 2012 e foi dividido em três fases. Na primeira, a Raízes fez o levantamento de mais de 150 artesãos de oito municípios diferentes da Região das Grutas, em Minas Gerais. A segunda fase foi voltada para capacitação com uma turma de 37 artesãos, que virou uma associação. Ao todo, foram mais de 200 horas de oficinas que abordaram temas como gestão, empreendedorismo, desenvolvimento humano, marketing, associativismo e design.
Hoje, quase 04 anos após o fim do projeto, fizemos um monitoramento para entender seu legado. Lena Eva e Marcia Fernandes, com seu talento, suas mãos ágeis, olhos atentos e mentes criativas ainda transformam os materiais doados pela indústria em brindes que são distribuídos a clientes e fornecedores da Cimento Nacional. Esse material é doado a elas e, depois de transformados em novos produtos, recomprados pela empresa.
Amanda Lopes, atual Coordenadora de Responsabilidade Corporativa da Cimento Nacional presenciou os 22 meses do ArteCarste e diz que “O projeto pelo o que eu observei e até pelo relato, foi muito bom, especialmente pela capacitação das artesãs por conta das oficinas. Isso auxiliou a apurar o olhar delas sobre o produto que elas vendem e a como vender. Foi um grande ganho!”.
Mas ela relata que, infelizmente, por questão de direitos autorais, as artesãs da associação perderam o direito de usar o nome e a logomarca ArteCarste. Na época, a empresa auxiliou essas empreendedoras a criar um novo nome e CPNJ para que seguissem com seus trabalhos manuais e com as articulações pela região. “Continuamos com as ações e, inclusive, a Cimento Nacional ampliou muito o produto reciclado para a produção de brindes”, conta Amanda.
A semente plantada perpetuou e tem se mantido nas ações da empresa até hoje. Apesar do esforço, essa associação em específico fechou por conta das mudanças. Mas outras alianças formaram-se…
Hoje, apenas Lena e Marcia fornecem especificamente para a Cimento Nacional. Já o legado para a comunidade ficou, e outras profissionais também permanecem desenvolvendo seus trabalhos. Ex-participantes estão empreendendo carreiras de sucesso no artesanato na Cerradouro Biojóias. E participando de feiras e associações locais como a Casa Rupestre em Lagoa Santa.
Uma delas é Marcia Fernanda Silva, que já tem seus produtos conhecidos fora do país, em Portugal e na Argentina, por exemplo. Além disso, ela conta que tem participado até de programas de televisão. “Vendo os meus produtos de forma individual e também faço parte de uma Associação de artesãos que trabalham com reciclagem de materiais. Fazer parte do projeto ArteCarste foi um grande aprendizado, as consultorias me ajudaram muito na qualificação do meu produto. Só tenho a agradecer!”, disse, ao receber o nosso contato.
Os rumos do projeto ArteCarste podem até ter sido diferente do que vislumbramos inicialmente. Mas o principal objetivo, que era capacitar aqueles artesãos, foi alcançado. Ao menos de nossa parte, sabemos da transformação causada em cada um desses profissionais, um a um à sua maneira e intensidade.
O que desejamos agora é que tenham prosperidade e ainda mais chances de se desenvolverem!