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Entre 8 e 3,6 bilhões, onde está a sua empresa?

Foto: Adam Jones

Acho (e espero) não ter sido a única impressionada e incomodada com os recentes dados que circularam por veículos internacionais e nacionais. Em recente relatório divulgado pela ONG Oxfam, “Uma economia para os 99%”, descobrimos que apenas oito pessoas em todo mundo – oito em um mundo inteeeiro – detém a riqueza equivalente de outros 3,6 bilhões, a metade mais pobre da população mundial. Fruto do capitalismo atual.

Além de triste, esse número chocante mostra uma realidade para além do “existem pessoas lá fora morrendo de fome para que você tenha sua vida confortável”. Ele mostra que a maneira com a qual temos enxergado e alimentado nosso sistema econômico está fracassada. Como considera a Oxfam, essa situação “extrema, insustentável e injusta” é reflexo do atual modelo econômico “a serviço do 1% mais rico da população”.

“Insustentável”. É neste assunto que quero entrar.

 

Até quando vamos manter esse modelo?

Não sou economista por formação. Mas como dizem, “mostre os números” que até um capitalista convicto enxerga isso. Como, por exemplo, o autodeclarado plutocrata* Nick Hanauer quebrou paradigmas lá em 2014 já prevendo que nos próximos anos as coisas ficariam (e estão ficando) feias. Para ele, muito em breve a população em geral irá se rebelar contra o sistema, que estará em colapso.

“Se me perguntarem o que eu vejo no futuro hoje? Eu vejo forcados. Tipo multidões enfurecidas com tochas e forcados. Porque enquanto pessoas como nós, plutocratas, estão vivendo além dos sonhos da ganância, os outros 99% da nossa população estão ficando mais e mais para trás”, disse, em sua participação no Ted Talks.

Nick é capitalista e não deixa de acreditar no capitalismo. Ele acredita que a potência está na classe média. Que ela é a chave para o sistema funcionar como deve. Por definição, capitalismo é um “sistema social em que o capital está em mãos de empresas privadas ou indivíduos que contratam mão de obra em troca de salário” segundo o dicionário do nosso oráculo moderno Google. É o que o mundo no geral vive hoje, mas será que ele tem trazido os benefícios que promete?

Enfim, a discussão é longa e rende assunto para muita sala de aula, muitas conversas de boteco, muitas discussões em família. Por isso, não deixe de ler na íntegra a matéria do El País.

 

Mas sabe o que não nos ensinaram nas escolas? Muitas coisas

1º) No Brasil, não nos ensinaram a empreender;

2º) Nos EUA – berço de Nicks, Steves, Gates etc. -, não ensinaram a ser sustentáveis. Esqueceram de falar em ciclo, em equilíbrio.

A desigualdade é essencial? Talvez. Talvez seja da natureza humana. Mas ser sustentável, como indica a análise sintática da palavra, é sustentar. Assim, ser sustentável é sustentar-se. Sustentar a si mesmo, o sistema (capitalismo) em que você vive.

 

Precisamos empreender o Desenvolvimento Sustentável

Seria muita prepotência dizer que eu já sabia. É claro que em números não. Mas lá em 2006 – quando co-fundei a Raízes Desenvolvimento Sustentável** eu sabia que o longo caminho de despertar nas empresas a preocupação com o social era sim essencial.

Não adianta “prosperar” se isso significar se isolar. As empresas precisam se dar conta de que ao invés de investir em se sistemas de segurança, muros, grades, carros blindados, greenwashing, propinas e instrumentos de gestão de crise diversos seria melhor para todo o mundo (literalmente) investimentos nos colaboradores e nos territórios. Empresas bem quistas são integradas aos lugares e não precisam despender tanto em proteção. É o ganha-ganha!

O Dragon Dreaming, metodologia para realização de projetos coletivos da qual somos adeptos e entusiastas, afirma que existem 3 formas de relacionamento entre pessoas: ganha-ganha; ganha-perde e perde-perde.

  • Ganha-ganha é o que propõe os Negócios Sociais: criar relações em que todos na cadeia saem ganhando;

  • Ganha-perde é o que prega o capitalismo tradicional: temos os ganhadores “por mérito” e os perdedores ou “losers” como os americanos se referem pejorativamente; e
  • Perde-perde é o que Nick Hanauer estava prevendo e já está se consolidando: os “perdedores” que cada vez mais serão chamados de “bandidos”, “criminosos” e “terroristas”, percebendo que já perderam o jogo mesmo, começam a investir pesado para que o outro perca também. E aí? Salve-se quem puder.

Mas esse caminho não é de todo inevitável. Uma nova economia quer emergir! Estamos nesse barco e tal qual Noé, queremos carregar todos que se dispuserem conosco. Vamos?

 

por Mariana Madureira

 

 

*Plutocrata é, por definição, uma pessoa influente pelo dinheiro que possui. Assim, a Plutocracia acontece quando o poder, inclusive político, é exercido pelo grupo mais rico. Essa concentração causa desigualdade de renda e baixo grau de mobilidade social.

** Nesses 10 anos, atingimos mais de 200 mil pessoas diretamente, 3 milhões indiretamente. Estamos longe, muito longe dos 3,6 bilhões. Ah, quem dera!!! Mas ao menos plantamos ou germinamos essa semente nas organizações que contribuímos em mais de 50 projetos de desenvolvimento sustentável, local, fomento do turismo, engajamento de comunidades, etc. Essa é a missão 😉

Foto de Adam Jones