Indo diretamente ao assunto, a abordagem agroecológica tem como bases a perspectiva sistêmica e a abordagem holística. É uma nova perspectiva que fortalece os saberes tradicionais, o trabalho em rede, a solidariedade e as relações de gênero, gerando autonomia e renda para os que vivem no campo. A Agroecologia ensina várias formas de produzir alimentos saudáveis, sem descuidar das águas, mantendo a vida nos solos, preservando as espécies de plantas, animais e microrganismos.
Ou seja, propõe sistemas produtivos que conservem os recursos naturais das propriedades, assegurando o acesso para a geração atual e para as futuras gerações – as premissas do desenvolvimento sustentável. Mas é importante esclarecer que aborda não somente o sistema produtivo! Além de considerar o todo de uma propriedade rural, composto por muitos elementos que interagem entre si, incorpora também abordagens e questões como gênero e cultura.
Do outro lado desse cenário está um número minúsculo de corporações, gigantes transnacionais, dominando os sistemas agroalimentares. Para elas, os alimentos são apenas mais uma oportunidade de negócio, de geração de lucro e acumulação de riquezas. Seu legado é uma proporção de cerca de um bilhão de habitantes deste planeta que sofrem de fome e subnutrição. Ou seja, soberania e segurança alimentar também tem tudo a ver com esse tema. Não sabe o que isso significa? Meu próximo artigo vai aprofundar essa relação!
Como chegamos até aqui
Os que pararam para refletir sobre a pandemia que nos acomete, fica evidente o quanto estamos e somos interligados. Um vírus é uma forma de vida muito simples, mas pode causar estragos de dimensão planetária, graças à facilidade de sua disseminação e também aos nossos hábitos e modo de vida no mundo moderno – como estamos assistindo dia a dia. Com rapidez inimaginável alastrou-se na cidade onde surgiu e, dada a circulação de pessoas num mundo globalizado, foi celeremente disseminado para outras regiões e países.
Essa situação fez com que alguns se assustassem e que outros despertassem para essa evidência do quanto somos interligados e, mais, para o quanto cada pequena ação pode ter consequências impensáveis e potencialmente gigantescas. Esse contexto todo pode ter levado muitos a repensar em hábitos e em como promover mudanças para ser mais camarada com esse planetinha que nos acolhe e, principalmente, com todos os demais seres que estão conosco.
Aqui no Brasil, cerca de 85% da população vive em áreas urbanas e os demais 15% vivem em áreas rurais. Mas 70% do nosso alimento é garantido pelos agricultores familiares do campo. Assim, no caso da prática agroecológica, o apoio de quem vive nas cidades também é fundamental, pois envolve conscientização e mudança de hábitos na hora da compra de um alimento.
Inclusive, é direito do consumidor final saber a procedência de seu alimento, ter acesso ao alimento de qualidade, sem contaminação de agrotóxicos, a um preço justo e acessível. Essa é uma das premissas da Soberania Alimentar apresentada na declaração de Nyélény, que aconteceu no Foro Mundial Pela Soberania Alimentar em 2007.
O que podemos fazer
Mais do que mudar práticas agrícolas, a transição agroecológica implica em promover mudanças mais amplas, atingindo processos políticos, econômicos e socioculturais. Esta transição não significa somente na busca de uma maior racionalização econômico-produtiva, com base nas especificidades de cada agroecossistema, mas também de mudanças nas atitudes e valores dos atores sociais. Isso com respeito ao manejo e conservação dos recursos naturais e nas relações sociais entre os atores implicados. Ou seja, o fortalecimento do tecido e do capital social faz parte do processo de transição.
E como? Esse artigo continua aqui no site da Raízes. Vou falar sobre outras definições da agroecologia, compartilhar um pouco do cenário brasileiro e, com o tempo, contar sobre ações que estão sendo feitas em prol do desenvolvimento sustentável!
Por Lucila Egydio
Foto: Reprodução/ Globo Rural