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Afinal, existe moda sustentável?

A indústria da moda é um segmento que carrega muitos estigmas e polêmicas. Isso porque, além de gerar milhões e milhões em lucro, tem muitos casos de uso de peles de animais e trabalho escravo em grandes marcas, no Brasil inclusive. Porém, existem iniciativas que contribuem para quebrar estes tabus, produzindo uma moda sustentável. E já adiantamos que a Raízes trabalha com algumas delas.

Acontece que o que você usa diz muito sobre quem você é e não podemos dizer que isso seja algo superficial. De acordo com o antropólogo argentino Néstor García Canclini, nós nos identificamos (também) através de tudo o que consumimos. Para ele, autor de “Culturas Híbridas: Estratégias para entrar e sair da modernidade” e “Consumidores e Cidadãos”, entre outras obras, “o consumo é uma forma de posicionamento, mais do que apenas uma transação financeira”.

A partir deste ato do consumir, cria-se um sentimento de pertencimento a determinados grupos, nichos e hábitos sociais e culturais.

 

Tendência: moda sustentável + impacto positivo

De fato, a moda não precisa estar diretamente relacionada ao consumismo sem limites. É, sim, possível consumir menos e melhor, fazendo escolhas que geram impacto positivo em pessoas e ao meio ambiente – ou que pelo menos não os prejudiquem.

Ao observar uma mudança de comportamento nos consumidores, com mais ou menos intensidade, de acordo com o lugar, algumas empresas tendem a criar produtos que esse público aceite. Produtos que não agridam o meio ambiente e os animais.

Um bom exemplo é a Mude, empresa júnior de Design de Moda da UFMG. Durante os últimos meses, foi firmada uma parceria com Raízes para que a empresa pudesse desenvolver uma coleção de roupas femininas inspiradas no tropeirismo. Essa iniciativa faz parte do Projeto Equidade Tecelãs do Carmo.

Para a realização desse projeto, explica a diretora e presidente da Mude, Luisa Campos, que “a equipe da Raízes fez algumas visitas aos distritos de Carmo e Ipoema (ambos localizados em Itabira-MG) para mapear a região e conhecer melhor a cultura local e as artesãs que fazem um trabalho de tecelagem e bordado”.

A ideia do projeto foi, a partir deste mapeamento, co-produzir uma coleção que tenha a identidade dessas mulheres. É o trabalho de um time: essa co-produção conta com os insumos, histórias e saberes das Tecelãs do Carmo e das Bordadeiras de Ipoema, o apoio técnico de design de moda da Mude e a facilitação do processo de co-criação pela Raízes. O resultado final serão produtos que contem, através do vestuário, as histórias delas e da região. Isso para garantir, a partir de vendas futuras, maior renda e visibilidade para as artesãs e bordadeiras, assim como para os dois distritos de Itabira envolvidos.

 

Moda sustentável é possível?

Para Luisa Campos, existe, sim, uma moda sustentável. “Cada vez mais vemos resultados incríveis da colaboração entre o respeito pelo meio ambiente e à sociedade, a valorização dos processos e das pessoas envolvidas e o incentivo ao consumo consciente”, afirma.

Um bom exemplo, segundo Luisa, é a exposição “Gari Fashion, Coleção Pecados Intrínsecos”, presente no MUMO (Museu de Moda de Belo Horizonte). Ela propõe a apresentação de peças desenvolvidas por estudantes de moda com materiais que teriam o lixo como destino, bem como materiais recicláveis retirados de galpões de catadores.

Outra iniciativa é o projeto idealizado por Zé Luiz Santana, que recebe mentoria da equipe da Raízes Desenvolvimento Sustentável. A Híbrida ainda não nasceu, mas está tomando corpo e, através da consultoria que está recebendo, Zé Luiz está “costurando” a melhor forma para colocar o negócio em prática.

“A Híbrida é um projeto de moda básica, feita a partir de algodão orgânico, que exige menos água e, logo, gera menor impacto ambiental. A ideia é que, a partir das vendas, eu possa destinar uma parte do valor arrecadado a uma causa de impacto social”, explica Zé Luiz.

Sobre a nossa mentoria, ele diz que ofereceu a ele uma visão mercadológica muito interessante, além de provocarmos uma reflexão sobre o negócio. “Foi, de fato, muito esclarecedor para mim, até pelo meu perfil ser mais de um executor do que um planejador. Todos os conceitos de marca que passam são muito valiosos. Abriu a minha mente e me ajudou a colocar as ideias no trilho e no caminho certo”. (E tem como não sentirmos satisfação por um depoimento desses?)

Ele também acredita e afirma que é possível existir uma moda sustentável: “apesar do ritmo frenético de consumo e da indústria da moda ser muito agressiva, sem harmonia com a natureza. É possível apostar em materiais recicláveis e não nocivos ao meio ambiente. Foi isso que me levou a fazer este projeto, quero tentar mudar essa visão da moda e fazer algo diferente. Nós temos que ressignificar o nosso consumo e nos conectar novamente à natureza”.

 

Como a moda sustentável beneficia pessoas

Para Luisa, a moda pode trazer desenvolvimento e realização pessoal para todos os envolvidos nos processos pelos quais ela passa. Isso quando, obviamente, acontece de forma ética, ecológica e politicamente correta.

Para os produtores e criadores, pode gerar uma sensação da realização por poder usar a própria criatividade e força de trabalho para criar algo interessante e útil e que leva conforto e bem-estar. Já para os consumidores, o benefício é a satisfação pessoal e também de autoconhecimento através da concretização do desejo, estilo e pertencimento.

 

E os impactos, quais são?

Esse tipo de projeto influencia diretamente na percepção das pessoas de que a moda é algo possível para a realidade delas, mudando a visão estereotipada da área como algo “fútil” e “sem sentido”. Além disso, a moda resgata culturas e tradições, mostrando principalmente a importância da cultura local, colaborando para que as comunidades se mantenham vivas e valorizadas. Este é seu maior impacto.

E você, quais as dúvidas que tem para executar o seu projeto?

Seja ele de moda sustentável ou não, se ele gerar impacto positivo em pessoas ou lugares, podemos auxiliar você ou a sua empresa a encontrar o propósito do negócio ou o desenho ideal do projeto, mapeando oportunidades e possibilidades. Vem com a gente!