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Desafio da pandemia: como dar início a projetos sociais estando distante do território

Imagine dar início ou continuidade a projetos sociais durante a pandemia? Tem sido assim aqui na Raízes Desenvolvimento Sustentável e temos nos adaptado a essa realidade. Na primeira edição da série “Desafio da pandemia”, falamos sobre a inclusão digital para pessoas da melhor idade. Desta vez, vamos compartilhar a experiência de iniciar um projeto estando distante do território.

Quando desenhamos as etapas do Projeto de Desenvolvimento Territorial e Transformação Social para o município de Itabirito, região metropolitana de Belo Horizonte, as principais ações seriam presenciais. Sempre atuamos desta maneira: ir até o território, conversar pessoalmente, encontrar pessoas, visitar lugares, realizar reuniões. Com a chegada surpresa da necessidade de isolamento social, adaptamos tudo para o virtual.

Mas neste caso em específico, parecia mais desafiador dar início às fases do projeto do que dar andamento a um grupo já contatado, uma vez que ainda precisaríamos conhecer o território. E como fazer isso à distância?

 

O principal desafio

Entre outros projetos sociais os quais atuamos, o objetivo desse é o desenvolvimento e a promoção de uma nova economia e, como consequência, a redução da minério-dependência de Itabirito. O município tem grande parte de suas atividades ligadas, direta ou indiretamente, ao setor. A iniciativa visa que essa realidade seja modificada e que o os atores locais se vejam como protagonistas de novos segmentos, potenciais geradores de trabalho e renda e, principalmente, de transformação social.

O principal desafio foi, na etapa inicial, conseguir mapear o território e contatar todos esses atores com o mesmo nível de qualidade que faríamos presencialmente. Tivemos de ter um olhar sensível e respeitoso em saber lidar com a desigualdade social do nosso país, por exemplo, no sentido de identificar ferramentas tecnológicas que pudessem servir para todas as pessoas.

Para realizar as conversas virtuais, as pessoas dependem de sinal, conexão, internet, pacote de dados e equipamentos. Além de nos adequarmos as necessidades de cada um, priorizamos o uso de ferramentas que dessem a sensação de uma conversa mais próxima, como as por videoconferência. Feitos os contatos, ouvimos, ouvimos muito – uma vez que o processo de escuta é um valioso e fundamental processo.

“O que conseguimos superar e merece destaque é o fato de, mesmo sequer tendo pisado em Itabirito, termos conseguido criar vínculos de confiança muito fortes com os beneficiários. A abordagem da Raízes é muito personalizada, mas sempre com o olhar para a realidade mais ampla, buscamos com isso estabelecer esse diálogo constante entre a presença de cada um, o olhar para cada empreendimento, mas sempre no contexto mais amplo, pensando no coletivo, na rede, no território. E temos ali um grupo que se mostra muito sensível a esta ótica e abordagem!

Se compararmos com a Expedição Pantanal, outro projeto que coordenei pela Raízes, vemos a diferença. Desbravar um território e estar onde cada beneficiário desenvolve suas atividades permite que vínculos sejam estabelecidos com mais naturalidade, mas Itabirito tem nos mostrado que bons projetos e perspectivas concretas de transformação são acolhidos por aqueles que desejam essa mudança!”, comenta Lucila Egydio, que coordena a frente de Agroecologia.

Desta maneira, apesar do desafio, consideramos que o Mapeamento e Diagnóstico foi uma etapa de sucesso! Identificamos e mapeamos mais de 70 associações e coletivos, além de diversos atores ligados à cultura, como música, teatro, dança, artesanato, além de interessados em desenvolver uma produção agrícola mais sustentável. Mobilizamos cerca de 150 pessoas, das quais mais de 80 participaram dos nossos primeiros encontros virtuais.

 

Etapas seguintes

O trabalho prevê o desenvolvimento em rede, integrando os setores e os negócios para uma oferta de experiências diferenciadas que se complementem. Entre os atores envolvidos no apoio ao projeto estão o poder público, agências de fomento, sindicato rural e associações de classe do município, etc. Assim, é possível movimentar a economia internamente e se desdobrar em possibilidades de acesso ao mercado externo.

Com duração total de 24 meses, o projeto, iniciativa da Vale, conta com etapas de Mobilização, Formação Integrada e Específica, Seleção de Empreendimentos, Incubação dos selecionados, Viagens de inspiração, Prototipagem e Acesso ao Mercado.

Definimos três frentes de trabalho com o auxílio dos especialistas da Raízes nas mais diversas áreas:

1 – Economia criativa, que engloba a cultura e o turismo, valorizando o patrimônio e o potencial local.

2 – Agroecologia, com práticas produtivas de menor impacto e regenerativas, que vão deixar um legado positivo para a região.

3 – Fortalecimento Institucional, que é o olhar para todas as associações comunitárias e os coletivos que existem no município, que podem se ajudar e fortalecer mutuamente, revigorando o tecido social local.

Para cada frente, existe um grupo envolvido. No último semestre, realizamos encontros temáticos por meio de quatro Seminários de Inspiração, realizados virtualmente. Agora, estamos no momento da formação, as chamadas Trilhas do Conhecimento, que são de fato as formações específicas sobre empreendedorismo, gestão dos negócios etc. A carga horária é diária e com muita troca de conhecimento.

O melhor dos lados

“Trazer especialistas, mentes inspiradoras de vários lugares do Brasil e até de fora, é um facilitador nos projetos sociais. Acredito que mesmo que a gente volte a atuar presencialmente, que a gente volte mesmo depois dessa vacina tão desejada e necessária, vamos voltar aprendendo que existe um mundo que pode ser mais híbrido e inovador; que a gente pode olhar para outras ferramentas, outras formas de trazer informações e conhecimento. Eu sinto verdadeiramente que essa pandemia, essa “paralização”, esse isolamento, trouxe também o desafio de não nos mantermos conformados, de buscar alternativas, liberar a criatividade que está dentro de nós”, conta Jussara Rocha, uma das coordenadoras do projeto pela Raízes.

Sempre com a premissa da sustentabilidade e a visão das novas economias, a Raízes acredita que podemos construir um mundo mais colaborativo, mais regenerativo e mais conectado. E sabemos que esses processos dos projetos sociais influem no modo como a economia se desenvolve em determinado local.  Desta maneira, acreditamos em um território com boas relações de governança, boas interfaces e parcerias, e conexões criativas.

 

Foto em destaque: Reprodução/Portal Minas Gerais