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Luso-afinidade: nossa língua, nosso elo, nossa identidade

A experiência da Raízes em Cabo Verde mostrou como é possível ampliar conexões, afinidades culturais e históricas. Atuamos com o desenvolvimento sustentável do turismo na Ilha de Santo Antão. E, em um país do continente africano, pudemos contribuir grandemente com expertises aplicadas a setores de desenvolvimento local.

Isolados em uma América que habla español, nós brasileiros tendemos a não lembrar que há no mundo outros lugares onde nossa língua é falada em decorrência da mesma colonização. Em termos históricos, o processo de formação do Império Colonial Português reuniu motivos de ordem econômica, político-estratégica e também um forte intuito de evangelização. Mas não se pode negar que havia também a uma acentuada curiosidade cultural e científica.

Como resultado desse longo processo histórico, vivemos uma identidade cultural partilhada por oito países. O elo é o passado. E uma língua que foi sendo enriquecida nessa diversidade, mas que se reconhece como una.

Em oito países – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste – e regiões (Goa, Damão e Diu, na Índia, e Macau, na China), somos uma comunidade de cerca de duzentos e quarenta milhões de pessoas fazem do idioma português uma das línguas mais faladas do mundo (ocupa o oitavo lugar!).

 

E afinal, o que é Lusofonia?

Esse processo deu origem ao conceito de “Lusofonia” ou de “Países Lusófonos”. Conjunto das identidades culturais existentes nestes países, esparramados em quatro continentes.

As peculiaridades ficam por conta de a língua portuguesa ter herdado nuances consideráveis na gramática, pronúncia e vocabulário. Isso por estar presente em um vasto território, mas de maneira descontínua.

 

O que nos une

Viemos aqui para falar do que nos une. Uma revelação trazida pela experiência da Raízes com um projeto de desenvolvimento sustentável em Cabo Verde…

Estar em outro país com raízes comuns nos mostra o quanto um processo histórico e de trajetórias parecidas nos favorece.  A ancestralidade afro-lusitana comum traz de imediato uma sensação de reconhecimento. A familiaridade se evidencia por termos o mesmo porte, jeito, trato, feições, mescla de cores e tons de pele.

Este elemento de união favoreceu de forma determinante a integração das consultoras Raízes com os formandos e com as instituições parceiras do projeto Rotas D’Aldeias Rurais de Santo Antão, o que vamos definir aqui como “luso-afinidade”. Tão perto, tão longe…

Um sentimento que vai aos poucos se transformando. Ainda mais em trabalhos que transformam realidades muito parecidas. No nosso caso, projetos de geração de renda e sustentabilidade no turismo, com metodologias de cocriação e geração de conhecimento inovador, ilustram bem a força e a possibilidade de resultados transformadores.

Por isso, estamos olhando além das fronteiras e nos aproximando de parceiros que também têm sentido a mesma necessidade de alianças estratégicas para o desenvolvimento sustentável. O apoio ao Portal Muxima e a parceria com as Rotas Solidárias de Turismo em Portugal são algumas delas. E outras estão por vir…

 

Colaboração é a chave

O mundo lusófono está aprendendo a ser mais ativo na nova economia e mais colaborativo entre si. Assim, rompendo a cada dia com as barreiras da dependência dos países colonizadores, não somente sob o ponto de vista da economia, mas principalmente pela reafirmação de sua identidade.

O Brasil pode e deve ser um aliado expressivo dos países de língua portuguesa, em especial aqueles cuja ligação histórica está presente nos fortes laços de formação do nosso povo.

E para alcançar os objetivos de qualquer projeto comunitário a empatia é essencial. Uma vez que a Raízes tem em sua essência o desenvolvimento sustentável, humano, a inspiração e o empoderamento, ter conexões comuns fortalece os vínculos criados e os resultados obtidos em cada ação.

Assim foi em Cabo Verde e temos certeza que será onde estivermos nessa ligação lusófona! Desde que chegamos, tivemos a sensação de estar em casa, o que fez de nosso engajamento com o desenvolvimento local algo visceral e não simplesmente técnico.

Do início ao fim, independente das diferenças, foi possível reforçar essa proximidade histórica, nossa luso-afinidade, em prol das trocas, do compartilhar, do crescimento mútuo.

No presente temos tudo para estar mais perto. E que assim seja!

 

Por Lucila Egydio e Jussara Rocha