
Em um mundo que gira rápido e tende a padronizar tudo, falar sobre regenerar a cultura é, mais do que nunca, necessário. Mas o que isso significa na prática? Cultura é muito mais do que festa, arte ou tradição. É a forma como um povo vive, sente, se expressa, conta suas histórias e constrói seu caminho de pertencimento e sinergia com o que nos rodeia. É resistência.
É a memória viva de quem somos — nossa raiz, nosso jeito de ver o mundo. E justamente por isso, ela se transforma com o tempo, mas carrega em si a essência que nos mantém conectados com a nossa origem.
Quando a cultura se perde, perdemos mais do que costumes
A homogeneização de hábitos, gostos e referências vem apagando, aos poucos, muitas expressões culturais únicas. Quando isso acontece, não perdemos apenas práticas ou símbolos — perdemos sentidos, afetos, identidades. É como se aos poucos fôssemos desconectados daquilo que nos torna verdadeiramente singulares.
Nesse cenário, regenerar a cultura é um ato de resistência. É valorizar o que é nosso, o que vem do território, das comunidades, das histórias que passam de geração em geração. É recusar a ideia de que tudo precisa seguir um mesmo padrão para ter valor. E mais: é uma forma de regenerar também o espírito e a dignidade de um povo.
A cultura como base para o desenvolvimento sustentável
Na Raízes Desenvolvimento Sustentável, acreditamos que cultura é alicerce para qualquer processo que queira ser verdadeiramente transformador. É ela quem dá sentido às ações, fortalece vínculos, desperta protagonismo e valoriza os saberes locais.
Por isso, em nossos projetos, partimos da escuta e do reconhecimento das identidades culturais, da memória e dos valores genuínos dos territórios. Trabalhamos para fortalecer práticas, rituais, modos de fazer e histórias que são expressão viva dos lugares e das pessoas. Mais do que preservar, buscamos potencializar: dar visibilidade, criar oportunidades e soluções cocriadas com as comunidades e garantir que esses saberes sigam vivos e pulsantes. Mais do que isso, que construam legados.
Um exemplo são os Projetos de Empreendedorismo Social Comunitário (Fundação Vale) realizados em Itabira nos distritos de Senhora do Carmo e Ipoema onde coletivos de tecelãs e bordadeiras trouxeram para o centro das ações sua origem e orgulho: o tropeirismo e a patrimônio histórico e natural.
Outro exemplo é o Projeto Mãos à Moda Almenara (Sebrae Minas) um caminho onde a moda autoral baseada nas tradições do município e nos seus mestres de ofício é a chave para o processo criativo que brilha com a marca criada Almenara Têxtil.
Regenerar e cuidar: Um chamado para todos nós!
Regenerar é permitir que a cultura continue viva, se adapte e floresça de novas formas — sem perder sua essência. É acolher as transformações naturais da vida, sem abrir mão do que nos conecta ao nosso passado e à nossa identidade. É olhar de forma sistêmica e interdependente para a vida em sua totalidade, integrando pessoas, natureza, sentidos, saberes e novas tecnologias.
É olhar pra frente honrando o que nos constrói sem nos deixar levar por padrões dominantes.
Regenerar a cultura não é tarefa só de quem atua com projetos socioculturais. É um chamado para todas as pessoas que acreditam num mundo mais justo, diverso e cheio de sentido, que evolui sem perder a essência.
É uma oportunidade e uma escolha diária: valorizar o que é local, escutar e salvaguardar as histórias e a memória , respeitar saberes ancestrais, incentivar expressões autênticas, apoiar comunidades que seguem em resistência e criam a partir do que são.
A cultura é o que nos une, nos diferencia e nos fortalece. É o que faz um lugar ser mais do que um ponto no mapa — é o que o transforma em território vivo, resistência e com alma.
Por Jussara Rocha
Referências bibliográficas:
Daniel Wahl – Design de Culturas Regenerativas (2019)
Ailton Krenak – Ideias para Adiar o Fim do Mundo (2019)
Vandana Shiva – Terra Viva (2021)
Antonio Bispo dos Santos – A Terra dá, a terra quer (2023)
Joanna Macy e Chris Johnstone – Esperança Ativa (2012)
Eduardo Viveiros de Castro – Metafísicas Canibais (2010)