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Mulheres e participação social: lições da maturidade

Não é segredo para ninguém que a Raízes tem uma habilidade especial para trabalhar com grupos de mulheres, você sabe. Sim, faz parte do nosso DNA contribuir para a redução das desigualdades de gênero! Mas é muito importante também refletirmos sobre como a identidade de gênero está ligada com a realidade social. Você já parou para pensar sobre isso?

A identidade de gênero tem suas raízes no contexto econômico, político, social e histórico dos papéis masculino e feminino e também gênese a partir das diversas expectativas sociais desses papéis. No passado havia um acordo tácito de que o papel feminino se restringia à reprodução biológica e à dedicação à família, enquanto o papel exclusivamente produtivo e externo na família era masculino.

Com as dificuldades econômicas, da miséria e da carência de mão de obra masculina gerada pelas guerras mundiais, as mulheres foram chamadas ao mercado de trabalho e para uma vida fora do lar. Mesmo assim, ocupavam os piores postos de trabalho e recebiam salários menores. Foram sujeitas a situações de opressão. Mas é importante considerar que esta situação causou uma ruptura significativa. Foi rompido o paradigma que diferencia o mundo do trabalho do mundo doméstico e confronta homens e mulheres assumindo os mesmos papéis.

Obviamente isso não se deu de forma uniforme em todas as sociedades e nações. Nem mesmo em uma nação os papéis de gênero são iguais em todo seu território. Complementarmente, o fator idade/geração, também se expressa no marco das relações sociais de gênero e de poder. O fator geracional também ganha relevância nessa análise, pois toda geração é definida pelas conjunturas históricas em que vive durante sua época.

Já falamos aqui que em nossos projetos prezamos e fomentamos o convívio intergeracional, o que enriquece a experiência de vida tanto das pessoas mais maduras como das mais jovens, pelas ricas trocas propiciadas por esses encontros. Mas lembremos que a geração de mulheres que hoje tem mais idade desenvolveu um curso de vida muito marcado pela tradição, sujeitadas aos pais e aos maridos. Para elas, o ambiente doméstico e para eles, o de ser o sustento econômico, trabalhar fora de casa, o que teve como consequência uma série de restrições sociais, cuja pior consequência é a subvalorização social, seja na juventude, na idade madura ou na velhice.

Quando levamos em conta que, se dedicadas exclusivamente a trabalhar em casa, para muitas mulheres não há nenhuma aposentadoria. Para as que cumpriram dupla jornada, ao se aposentarem, curiosamente as mulheres recebem a aposentadoria muito melhor do que os homens. Os homens perdem grande parte de seu papel social, enquanto as mulheres encaram este momento como uma libertação. A viuvez pode também ser encarada da mesma forma, uma vez que a partir daí podem abrir espaço em suas vidas para a realização de sonhos deixados de lado.

Ou seja, estamos assistindo a uma possível segunda revolução feminista! As mulheres idosas devem estar engajadas socialmente e isso é fundamental para aumentar a autoestima e o senso de pertencimento. Estamos falando aqui de capital social como elemento relevante na identidade a esta altura da vida. Mulheres buscam um capital que gere mais redes de cooperação e solidariedade e uma capacidade de viver em comunidade. Isso é possível somente através de relações de solidariedade e confiabilidade entre os indivíduos e de organização comunitária.

Por esta razão, em nossos projetos visamos o protagonismo e empoderamento individual e coletivo, o fortalecimento de vínculos, conexões e redes sociais, as quais os grupos de pessoas estabeleçam as relações de solidariedade e confiança. Em todas as idades é fundamental nos  sentirmos ativos em nossa comunidade, com espaço para expressarmos livremente sentimentos, interesses, opiniões e experiências.

Pesquisas demonstram que a principal tarefa evolutiva da velhice é a integração social e a autonomia pessoal. Nesse sentido, as mulheres tem sido o grande exemplo ao buscarem, na maturidade, contribuir de forma mais assertiva para a coletividade! Ao favorecermos que jovens, adultas e idosas convivam e trabalhem em harmonia, estamos favorecendo a perspectiva de participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis.

Ao abordar a questão da longevidade precisamos, acima de tudo, deixar de lado estereótipos ultrapassados sobre idosos. É hora de abordar de forma prospectiva essa nova sociedade que se desenha, onde os 60+ terão papel determinante em definir padrões de consumo e em repactuar a relação entre as gerações.

 

Por: Lucila Egydio