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Conexão ancestral: a importância da literatura indígena

A literatura indígena brasileira desempenha um papel crucial na preservação e disseminação das culturas ancestrais e na promoção de uma compreensão mais profunda e sem ruídos dos povos nativos e suas cosmovisões. Ler obras de autores indígenas brasileiros oferece uma oportunidade única de explorar narrativas autênticas, valores e conhecimentos tradicionais que por muito tempo foram silenciados e hoje são marginalizados pela sociedade.

No mundo ocidental colonizado, passamos muitos anos acostumados a ouvir sobre a cultura indígena, mas pela visão de pessoas que não compartilham da mesma vivência. Quem nunca leu os “clássicos” O Guarani e Iracema, de José de Alencar, e Macunaíma de Mário de Andrade? Obras valiosas, porém feitas por pessoas não indígenas. 

Conheça alguns escritores indígenas e suas obras

Recentemente, conseguimos ver uma mudança significativa na literatura. Pessoas indígenas estão escrevendo sobre a sua cultura, suas multiplicidades e sendo empossados na Academia Brasileira de Letras, que é o caso do ambientalista, escritor, poeta e filósofo Ailton Krenak. 

Nascido em 1953 no Vale do Rio Doce, Minas Gerais, Ailton, desde jovem, se destacou como uma figura central na luta pelos direitos dos povos indígenas no Brasil. Membro do povo Krenak, Ailton se tornou um ícone na defesa dos direitos indígenas e ambientais, tanto no Brasil quanto internacionalmente, sendo o primeiro indigena a se tornar “imortal” na Academia Brasileira de Letras. 

Krenak tem obras como Ideias para Adiar o Fim do Mundo e A Vida Não É Útil, ambas trazem um convite à reflexão sobre a nossa relação com a natureza e a necessidade de reconfigurar nossas práticas de vida.

Outra grande escritora indígena e ativista é Eliane Potiguara. Com obras como Metade Cara e Metade Máscara e O Pássaro Encantado, Eliane aborda em suas obras temas como a relação com os ancestrais e a importância da memória e dos ensinamentos tradicionais.

Autor de O Banquete dos Deuses e várias outras obras, Daniel Munduruku escreve tanto para crianças quanto para adultos, trazendo mitos, histórias e reflexões sobre a vida indígena. Filho do povo de Munduruku, de Belém (PA), Daniel Munduruku foi o primeiro autor de literatura infantil de origem indígena. Ele é um dos autores mais prolíficos e respeitados da literatura indígena contemporânea, tendo ganhado duas vezes o Prêmio Jabuti, uma em 2017 outra em 2021.

Márcia Wayna Kambeba é poeta e geógrafa brasileira. De etnia Omágua/Kambeba, nasceu numa aldeia ticuna. Marcia já publicou seis livros. Sua primeira obra, Ay kakyri Tama – Eu Moro na Cidade, aborda questões relacionadas aos indígenas que vivem em áreas urbanas e lutam por respeito e reconhecimento. 

Davi Kopenawa, nascido por volta de 1956 na comunidade de Mõra mahi araopë (região do rio Toototobi) no extremo norte do Amazonas, é o presidente fundador da Associação Hutukara, que representa a maioria dos Yanomami no Brasil. Ele foi condecorado com diversos títulos e distinções nacionais e internacionais, incluindo a Ordem do Mérito do Ministério da Cultura em 2015. Em 2021, tornou-se membro da Academia Brasileira de Ciências. Kopenawa é coautor junto com o antropólogo francês Bruce Albert do livro A Queda do Céu, que foi traduzido para sete idiomas e escolhido para a próxima leitura do clube do livro da Raízes.

Mais leitura, mais cultura 

A Queda do Céu, de Kopenawa e Albert, foi escolhido a dedo para ser o livro do semestre do nosso clube do livro. A obra explora a vida de Kopenawa, desde sua infância na comunidade de Mõra mahi araopë até sua ascensão como líder e porta-voz dos Yanomami. Kopenawa compartilha sua experiência de vida, suas visões e seu papel como xamã, apresentando uma visão íntima e pessoal da cosmovisão Yanomami. Ele descreve as crenças, rituais e práticas espirituais que sustentam a vida de seu povo, destacando a relação intrínseca entre os Yanomami e a floresta amazônica.

Publicado originalmente em francês, em 2010, fruto de traduções de entrevistas feitas em yanomami ao longo de quase 30 anos, o texto foi traduzido para o português, em 2015. O livro tem mais de 700 páginas de muito conhecimento da cultura Yanomami. 

A literatura indígena é diversa e rica, abrangendo desde narrativas tradicionais e mitos até reflexões contemporâneas sobre identidade e sustentabilidade. É importante que essas obras sejam valorizadas, incluídas nos currículos escolares e no nosso dia a dia para combater estereótipos e promover uma compreensão mais inclusiva da história e cultura brasileira.

Por aqui, estamos na expectativa para começar essa leitura essencial para entendermos mais sobre antropologia, direitos humanos e questões ambientais.