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Feminismo para quem? Carta aberta de uma mulher urbana para outra, ribeirinha da Amazônia

Eu sou muito diferente de você. Cresci em meio ao caos, um monte de gente, motores acelerando e buzinas. Quando não era isso, era som das vozes das pessoas abafando os meus pensamentos ou no transporte público, na escola ou até mesmo nos lugares que eu frequentava por lazer. Virei mulher e tive de lidar com muitas questões. Algumas delas, até mesmo antes de virar mulher por completo, mas porque me enxergavam assim, sexualizada, “desenvolvida demais pra minha idade”. “Hoje em dia as meninas são assim”, diziam. 

Eu vivi, e vivo ainda hoje, de uma maneira muito diversa da sua. Mas somos mulheres, somos iguais. Eu estou aqui para compartilhar com você. E curiosa para ouvir o que você tem a me dizer. Como foi sua infância? Em que momento se tornou mulher? O exercício é ouvir. Posso te contar um monte de coisas que temos passado por aqui. Um monte de questões que temos de enfrentar, como o assédio masculino pelas ruas em que caminho, por quarteirões e quarteirões que temos de baixar a cabeça – ou não – todos os dias.  

Imagino que aí seja diferente, mas porque você está cercada por árvores e tem um rio lindo à vista. O meu fede. Estamos separadas somente pelo cenário físico mesmo, pelo visual. Acho que a sua paisagem é mais bonita e cheirosa. Mas talvez o que você passa aí seja mais intenso e intrínseco – aquela coisa que passa despercebida. Mas sabe? O seu corpo é igual ao meu, apesar de diferente. E isso é lindo também. A verdade é que a gente sente igual. 

Mas independente de qualquer coisa, quero dizer que estamos juntas. E o que você faz por aí, eu faço por aqui também. As suas lutas, angústias e no que você pensa quando bota a cabeça no travesseiro, na rede – ou seja lá onde você prefira dormir –, eu penso também. Por isso, queria saber… Você se sente ouvida? Você tem autonomia nas suas escolhas? Você tem respeito na sua casa? E, acima de tudo, você se sente livre? 

Eu quero te contar das coisas, mas quero que a gente construa um futuro juntas. E quando digo “construir um futuro”, não digo que vou me mudar para onde você vive, nem quero que você venha comigo. Quero respeitar as suas convicções e o que você acredita. Mas também quero compartilhar as minhas vivências e meus pontos de vista. 

E você, como me enxerga? O que quer saber de mim, a mulher da cidade grande? 

 

Sororidade é, por definição, a união entre mulheres, baseada na empatia e companheirismo. É a busca por um objetivo em comum. O conceito está, sim, presente no feminismo, contemplando questões éticas, políticas e práticas. O meio, o percurso, o caminho pode ser diferente. A cultura, as crenças. Mas o objetivo é um só: igualdade entre os gêneros. 

Esse é um exercício que buscamos sempre praticar nos projetos que desenhamos e implantamos. Até porque em sua maioria dialogam diretamente com mulheres de comunidades Brasil e mundo afora. Mas, apesar do feminismo, quem sou eu para impor minhas vivências e convicções? Aliás, convicção é algo muito definitivo para um mundo em movimento, não é mesmo? 

Ao contrário disso, preferimos o diálogo, a compreensão e o respeito pelas múltiplas realidades e vivências. E é dessa forma que em breve cairemos na estrada para a 2ª edição do “Dona do Meu Fluxo”, em parceria com a Korui, desta vez em comunidades ribeirinhas da Amazônia. Estamos em busca de apoio e patrocinadores.  

A primeira edição foi gratificante! Percorreu quase 3mil km em 11 dias pelo sertão mineiro e distribuiu centenas de coletores menstruais para as mulheres dessas comunidades mineiras mais vulneráveis [Saiba mais aqui].  

A verdade é que, assim como essa carta, mais do que entregar o produto em si, ficou a experiência vivida, a prosa trocada, as conversas com as mulheres que participaram do projeto e tiveram a sua vida impactada positivamente. E queremos sentir e proporcionar isso de novo e de novo. 

 

Como ajudar? Se você se interessou por essa iniciativa, contribua como pode, inclusive aceitamos sugestõesConfira aqui nesse link