Houveram lamentações – e muitas – sobre o que aconteceu na última semana com o Museu Nacional. Um incêndio que devastou mais de 20 milhões de itens reunidos em 200 anos de pesquisa. Se as lágrimas tivessem o poder de apagar o fogo, teríamos revertido essa trágica situação. Mas a realidade é que, segundo relatos de profissionais do local e perícia, sequer existia água e a mínima estrutura para salvar o terreno.
Nossa intenção aqui, dessa vez, vai além das informações que já trouxeram as dezenas de notícias veiculadas, bem como os posicionamentos de amigos, jornalistas e formadores de opinião nas redes sociais. Propomos uma reflexão sobre o que se perde em meio às ruinas, o que desaparece com as cinzas e o que é irrecuperável. E isso está acima das acusações de “quem visitou o museu”, “ninguém visitava o museu”, “brasileiros foram mais ao Louvre, em Paris”… todos perdem. Todos.
O que a Raízes tem a ver com isso?
A identidade cultural, a memória de um povo, gera valor para as pessoas e as empodera. Saber de sua própria história é poderoso. E esse sentimento de pertencimento ajuda a preservar e cuidar da natureza da cultura, zelar por essas coisas das quais depende a nossa existência, afinal de contas. O que é o presente sem que o passado tivesse acontecido?
Em nossos projetos aqui na Raízes valorizamos a identidade das comunidades com as quais atuamos, considerando um aspecto local e, consequentemente, nacional. Inclusive isso se expande para além do território nacional. O vínculo com o passado está tão enraizado no que somos como povo que, por exemplo, em um projeto que colaboramos em Cabo Verde, no continente africano, fomos escolhidas dentre tantos profissionais para realizar a missão de capacitar empreendedores para o turismo comunitário por conta da nossa luso-afinidade.
[Vale a pena reler esse artigo co-criado por Lucila Egydio e Jussara Rocha, que acompanharam todo o projeto in loco].Por essas e outras tantas razões, não é só o Brasil que perde
A tragédia que ocorreu é um reflexo desse passado também. De uma política que se construiu ao longo da história otimizando custos de um lado enquanto outros que beneficiam uma pequena elite esbanjam verba, sem prioridades para dar luz ao seu próprio povo.
O Museu estava associado à Universidade Federal do Rio de Janeiro. E estamos sob o risco de ter ainda menos investimentos voltados à educação pública. A esperança é que essa tragédia – que agora também faz parte da nossa história e vai refletir no amanhã – gere a devida atenção para que a mudança aconteça.
Como já disseram: não foi só o Brasil que perdeu, foi o mundo. Quantas crianças hoje nascem sem esse passado? O Museu Nacional figurou como um dos maiores de história natural e antropologia das Américas. E hoje jaz.
Crédito da imagem: picture/alliance/AP Images/ M. Lobao