Desenvolvimento sustentável com democracia, justiça, autonomia, igualdade, liberdade e o fim da violência contra as mulheres são alguns dos direitos pelos quais buscam as adeptas da Marcha das Margaridas. São trabalhadoras rurais, extrativistas, indígenas e quilombolas que tomam as ruas para dialogar sobre suas reivindicações. É a maior mobilização de mulheres da América Latina e acontece no dia 12 de agosto, que é também o Dia de Luta contra a Violência no Campo e por Reforma Agrária.
O nome do movimento vai muito além da flor. É uma homenagem à Margarida Alves, símbolo da luta contra as injustiças no campo que foi morta em Alagoa Grande, na Paraíba, nessa mesma data, em 1983. Ela foi a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município e lutou para que os trabalhadores do campo tivessem seus direitos respeitados. Ela exigia o mínimo, o básico: carteira de trabalho assinada, férias, 13º salário e jornada de trabalho de oito horas diárias.
O que mudou 38 anos depois?
Infelizmente muito pouco ou quase nada, ainda mais do ponto de vista do desmatamento. Temos visto com frequência escândalos sobre o desmonte ambiental no Brasil e as frequentes ameaças aos povos originários. O desenvolvimento sustentável com democracia é possível, do contrário dados como o que vimos recentemente no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), que mostra um aumento de 1,07° na temperatura do planeta, serão cada vez mais devastadores.
Isso porque a demarcação de terras e o incentivo à agroecologia ajudam a preservar o meio ambiente. E não só isso, como:
– Essas porções de terra do território nacional habitadas por um ou mais povos indígenas, ou ainda, por comunidades quilombolas, abrangem suas atividades produtivas, para sustento próprio, como plantio de alimentos. Além de garantir seu bem-estar necessário à reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
– Temos o privilégio de viver todas essas possibilidades dentro do nosso próprio país com os povos indígenas e quilombolas, além de outras comunidades regionais.
– É um direito de todos os brasileiros a tutela do patrimônio dos povos indígenas e quilombolas. É uma forma de autoconhecimento da história nacional e proteção das manifestações culturais que compõem, não apenas a identidade dessas comunidades, como também a identidade brasileira.
[Saiba mais em: Povos indígenas e quilombolas: 3 motivos pelos quais a demarcação de terras é importante]
Como diz a nossa consultora em sustentabilidade, Lucila Egydio, em um de seus artigos: “São muitas as agriculturas quantos forem os diferentes agroecossistemas e sistemas culturais das pessoas que as praticam. Assim, a agroecologia também é sobre respeitar essa complexidade. E para entender as relações entre sociedade, indivíduo e natureza, economia, cultura e política, ela precisa partir de um enfoque multi ou transdisciplinar, fugindo do paradigma da simplificação. (…) E é o caminho da Agroecologia Política que orienta para a construção de políticas públicas de geração de autonomia, o que beneficiam homens e mulheres no campo e na cidade. Permite, ainda, uma ação crítica e transformadora. Todos estes princípios são fundamentais na construção de uma nova sociedade.”
Por conta da Covid 19, desta vez, a Marcha das Margaridas acontece virtualmente, às 15h. A Roda de Conversa virtual traz a temática “Margarida Alves, presente! Mulheres e Juventude na luta pela reforma agrária e contra a violência no campo”. Nesse dia também completam 21 anos desde a realização da primeira passeata.
Na foto: Cartaz que encontramos no salão do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Irituia, no Pará, em um dos workshops do Dona do Meu Fluxo (DMF) em 2019.