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A agroecologia no Brasil tem jeito de prosperar?

Por 22 de junho de 2020julho 1st, 2020Artigos

Na primeira parte desse artigo sobre agroecologia no Brasil, compartilhei que aqui cerca de 85% da população vive em áreas urbanas e os demais 15% vivem em áreas rurais. Mas 70% do nosso alimento é garantido pelos agricultores familiares do campo. Além disso, o setor agroexportador brasileiro, que costuma se autodeclarar provedor de alimentos para o mundo, mostra que há excedentes na produção ou que, teoricamente, estaríamos produzindo mais do que o necessário.

Apesar de alta capacidade de produção, a verdade é que ao menos resolvemos o problema da fome mesmo no Brasil, muito menos a questão da qualidade dos alimentos. Esse papel de “provedor de alimentos para o mundo” atrai uma crescente pressão externa para que o setor se posicione em relação a questões como mudanças climáticas e saúde humana, adequando suas práticas produtivas a padrões estabelecidos internacionalmente.

E o Brasil vem dando sinais de retrocessos em relação às políticas nacionais de mitigação das mudanças climáticas nos últimos três anos – como indicam as taxas crescentes de desmatamento. Estamos destruindo de forma irremediável e irresponsável os recursos naturais necessários para nossa qualidade de vida, inclusive para a produção.

Com este quadro é cada vez mais urgente que sejam adotadas todas as medidas para reverter este processo. Precisamos fomentar a transição para agriculturas mais sustentáveis, capazes de produzir alimentos sadios para toda a população e com menores níveis de impacto ambiental.

Qual seria a solução? A prática agrícola agroecológica. Ela se preocupa com a conservação da biodiversidade e dos recursos naturais, fomenta os circuitos curtos de comercialização que evitam a emissão de gases de estufa para o planeta. Desta forma, as práticas são bem mais amigáveis e não utilizam insumos químicos e transgênicos.

 

Agriculturas mais sustentáveis

A produção de alimentos saudáveis em quantidade adequada para suprir as necessidades humanas tem demandado a prática de agriculturas mais sustentáveis. A escolha por falar em “agriculturas mais sustentáveis”, plural, é proposital, pois parte da premissa de que não existe algo absoluto.

São muitas as agriculturas quantos forem os diferentes agroecossistemas e sistemas culturais das pessoas que as praticam. Assim, a agroecologia também é sobre respeitar essa complexidade. E para entender as relações entre sociedade, indivíduo e natureza, economia, cultura e política, ela precisa partir de um enfoque multi ou transdisciplinar, fugindo do paradigma da simplificação.

Mais do que mudar práticas agrícolas, esse processo significa promover mudanças políticas, econômicas e socioculturais É desse jeito, olhando para o todo, para o contexto geral, é com essa abordagem holística, que se faz agroecologia!

 

O processo de transição

A transição agroecológica implica na sintonia econômico-produtiva com base nas especificidades biofísicas de cada agroecossistema. E também de mudanças nas atitudes e valores dos atores sociais, com respeito ao manejo e conservação dos recursos naturais – mais especificamente. Contudo, compreendendo o cenário de uma forma mais ampla.

E é o caminho da Agroecologia Política que orienta para a construção de políticas públicas de geração de autonomia, o que beneficiam homens e mulheres no campo e na cidade. Permite ainda uma ação crítica e transformadora. Todos estes princípios são fundamentais na construção de uma nova sociedade. Vamos juntos?

 

Para saber mais:

Instituto Giramundo Mutuando: Faz articulação dos movimentos de Agroecologia e Segurança Alimentar no Brasil e no mundo. Diversos materiais para download: cartilhas, listas de espécies, legislação.

Articulação Nacional de Agroecologia (ANA): Espaço de articulação e convergência entre movimentos, redes e organizações da sociedade civil brasileira engajadas em experiências concretas de promoção da agroecologia.

Brasil Agroecológico: Dá visibilidade aos avanços da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica – Pnapo e ao Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica – Planapo, possibilitando a visualização dos resultados gerados no cotidiano da política. É um espaço de importante valor, representação simbólica e afirmação da relevância quanto à continuidade de políticas públicas para a agroecologia e produção orgânica.

 

Por Lucila Egydio

 

Créditos imagem: Antônio Araújo/Mapa – Reprodução/Brasil Agroecológico