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Você é dona do seu fluxo?

O que é ser mulher? O mês de março, mês das mulheres, tem a proposta de fazer todo mundo parar para refletir sobre isso. O que achamos muito bom! A gente também pensa demais sobre isso, diariamente, a todo instante, e não por acaso a temática feminina é inclusive determinante de nossos negócios. E foi por isso que a gente se uniu…

Nos conhecemos em 2017 quando a Lú (Luisa Cardoso, fundadora da Korui) já tinha coletores menstruais suficientes para começar o projeto de doação que idealizara. O plano sempre foi – e continua sendo – doar um coletor para uma mulher em situação de vulnerabilidade a cada 10 comprados pelas consumidoras. Então, Lú procurou a Mari (Mariana Madureira, fundadora da Raízes) buscando inspirações para saber como ela poderia chegar em comunidades e abordar essas mulheres.

A gente se uniu para somar nossas expertises e fazer isso dar certo. Mas acima de tudo, a gente uniu as nossas verdades, valores e a vontade de ajudar mais mulheres a serem donas dos seus próprios fluxos. Afinal, pensar que muitas mulheres, a maioria na verdade, não tem autonomia sobre o próprio corpo nos parece inconcebível e até mesmo assustador.

Poderíamos simplesmente entregar ou enviar esses coletores por Correios, porém não achávamos que essa era a resposta que gostaríamos. Então estruturamos uma série de ações que incluem principalmente ministrar alguns workshops que começam com a pergunta-base “Quem aqui é dona do seu fluxo?”. Entendemos que ser dona do seu fluxo é ter liberdade para sair de casa menstruada, por exemplo. Parece banal, mas essa realidade limita muitas das mulheres que hoje não tem acesso a absorventes por questões financeiras. Também é ter autonomia para fazer suas escolhas profissionais, familiares, sexuais. E tratamos desse tipo de empoderamento feminino nos workshops, trazendo temas à tona e dando voz a elas.

E o que isso tem a ver com o movimento Menos 1 Lixo? Uma única pessoa, que tem em média 450 ciclos menstruais durante a vida, usa cerca de 10.000 absorventes e gera 150kg de lixo. Se considerarmos que, apenas no Brasil, existem hoje mais de 62 milhões de mulheres em idade menstrual, chegamos ao número alarmante de mais de 12.000 toneladas de absorventes jogados fora todo mês.

Para agravar ainda mais a situação, em muitos desses lugares remotos e vulneráveis aqui no país, osaneamento básico é precário ou sequer existe. Ou seja, absorventes e outros produtos descartáveis como fraldas e etc. são jogados a céu aberto, em córregos ou rios. Então o uso do coletor menstrual por todas as mulheres de uma comunidade é capaz de reduzir significativamente o impacto que ela gera no meio ambiente.

Mas não é só esse lixo.

Nós precisamos quebrar tabus e limpar os resíduos que são gerados por uma forma dura e por vezes muito machista de lidar com nossos corpos, nossos ciclos e nossas vidas. A gente fala muito sobre conhecer o próprio corpo quando aplicamos o workshop. Esse é um desafio grande para usar o coletor menstrual. Muitas mulheres que não tiveram o privilégio de frequentar a escola não sabem bem como é a curvatura do canal vaginal e se sentem totalmente inseguras de tentar usar o copinho. Aí entram vídeos, desenhos e formas lúdicas e divertidas de aproximar elas do corpo feminino e da naturalidade que deveria ser se tocar e se conhecer.

Envolve muita delicadeza tratar desses temas e foi por este motivo que desenvolvemos uma metodologia diferenciada, que mescla informação, períodos de escuta e uma boa pitada de humor. O resultado tem sido incrivelmente rico. Os workshops são únicos e saímos muito transformadas de cada um deles. É por este motivo que este ano decidimos abrir vagas para voluntárias que queiram participar deste ato de troca.

E você, homem ou mulher, já pensou sobre o que é ser mulher na nossa sociedade?

Sobre o que é ser dono ou dona do fluxo da sua vida?

Você pode acompanhar a 3ª edição do projeto pelo Instagram @DonadoMeuFluxo]

 

Artigo publicado originalmente em Menos Um Lixo

FOTO: Micael Hocherman