Em minhas andanças rumo a uma vida mais sustentável acabei por me tornar aquela que as pessoas consultam ao precisarem fazer escolhas ao tentar adotar práticas mais saudáveis para si e para o planeta. Nunca fui do tipo catequista, mas, quando solicitada, esclareço fatores para que as pessoas escolham ao menos com consciência o que estão consumindo. Mas uma pergunta se tornou recorrente e, confesso, me incomoda bastante: “Quero ser sustentável, o que eu compro?”.
É bom saber que muitos estão antenados com a questão da sustentabilidade, tentando tirar o conceito do papel e trazê-lo para a prática diária. Mas a pergunta sobre o que consumir para ser sustentável revela a armadilha em que nos colocamos: somos seres que consomem, acima de tudo. E se a questão da sustentabilidade tem apelo e fala ao meu coração, o que comprar para atender a essa nova necessidade? Minha resposta a essa questão é simples: consuma menos, para começar.
É tempo de repensar o seu consumo
O mais importante, entretanto, é consumir de forma realmente consciente. Parece simples? Quem já tentou sabe o quanto não é. Mas reafirmo que, acima de tudo, não é impossível e hoje é um movimento irreversível. Estamos falando de atenção às escolhas que vão afetar diretamente nosso corpo, nossos pensamentos, nossa disposição. Nossas opções do dia a dia materializam nossa relação com o planeta e a alimentação é muitas vezes nosso contato mais direto e rotineiro com a natureza. Cada item que usamos tem uma história. Conhecer essa história nos permite unir segurança alimentar, nutrição e sustentabilidade.
Em algum grau você se preocupa com a cadeia produtiva dos alimentos que consome? Sabe onde o arroz que comprou foi cultivado? Quem são as pessoas responsáveis pelo plantio? Você tem alguma noção de como foi colhido e como foi embalado para ser transportado até você? Qual a distância que percorreu até chegar ao lugar onde você comprou? Quem esteve envolvido no processo desde o produtor até chegar a suas mãos? As mesmas perguntas valem para qualquer item que precisemos adquirir.
Geração “mimada”
Se você não souber ou lembrar que nunca se preocupou com isso, não se assuste. A grande maioria é assim. Infelizmente somos parte de uma geração que foi adestrada a ter a vida cada vez mais facilitada por coisas prontas. Com isso deixamos de nos preocupar com coisas elementares e básicas para que passemos a nos preocupar em ter atendidas outras necessidades de consumo criadas pelo mundo moderno. Não perca tempo cozinhado! Coma essa comida que fica pronta em 5 minutos e use seu tempo para pensar em como vai poder ter o carro do ano, o último modelo de celular, as roupas de grife “X” ou o tênis da grife “Y”. E ficamos muito distantes do que realmente nos faz ter saúde e energia para usufruir tudo isso!
A alimentação como fator de saúde
As principais doenças que atualmente acometem os brasileiros são as crônicas não transmissíveis. Dentre essas doenças estão as cardiopatias, pneumopatias, acidentes cerebrovasculares, câncer e diabetes, ou seja, muitas delas são evitáveis com mudanças de hábitos. Dentre esses hábitos, a alimentação é um dos fatores mais importantes, mas os esforços devem incluir redução do sedentarismo e de dietas insalubres, redução do consumo de tabaco e álcool. Ou seja, para enfrentar essa realidade são necessárias ações amplas que afetem positivamente sobre os diversos determinantes da saúde e nutrição.
Segurança Alimentar
Muito antes do discurso sobre sustentabilidade, estamos falando primeiro sobre Segurança Alimentar. E, se ainda não sabe, você vai entender o quanto ambos os conceitos e as práticas estão interligados. Segurança alimentar envolve questões relacionadas à produção do alimento, à higiene e saúde, às práticas e escolhas alimentares, ao respeito à diversidade e às formas de trabalho. E cada um desses itens podem ter abordagens e práticas que podem ser negativas e positivas. E nós, consumidores, ao comprar este ou aquele alimento, estamos fortalecendo essa abordagem e essas práticas.
Informação é essencial para que façamos escolhas coerentes com o que queremos para nós e para nosso ambiente. O livre acesso a informações confiáveis sobre características dos alimentos e também sobre alimentação adequada e saudável contribui para que pessoas, famílias e comunidades tenham mais autonomia para fazer escolhas alimentares e para que lutem pelo cumprimento do direito humano à alimentação adequada e saudável.
A partir do momento que você se interessa em ter acesso a essa informação para pautar suas escolhas vai perceber que ainda temos muito a melhorar nesse sentido. Isso inclui ações do governo e ações dos que oferecem alimentos, sejam naturais ou processados. O Guia Alimentar para a População Brasileira (http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira.pdf) traz recomendações para aliar a questão alimentar com o desenvolvimento mais equilibrado da sociedade, respeitando as diferenças regionais. Sua leitura traz à baila como nossas escolhas estão relacionadas com a cadeia de produção e alimentos, desde o produtor, passando pelos distribuidores até chagar a mesa dos consumidores.
Iniciativas do bem
Várias iniciativas mais recentes de mobilização da sociedade também buscam fortalecer cadeias mais sustentáveis, dentre elas as que listo a seguir.
Slow Food
É um movimento que, por meio de diversas campanhas, defende o direito ao prazer da alimentação. Suas ações buscam valorizar o uso de produtos artesanais de qualidade, mas que sejam produzidos de forma que respeite o meio ambiente e as pessoas responsáveis pela produção, os produtores. (http://www.slowfoodbrasil.com/)
Food Revolution Day
É uma campanha global para criada pelo chef Jamie Oliver. A cada ano é escolhido um tema para reforçar os princípios de estímulo à alimentação saudável e ao compartilhamento de receitas, como também para que as pessoas cozinhem umas para as outras, ao invés de comprar comida pronta ou extremamente processada. (http://www.foodrevolutionday.com/)
Gastronomia Responsável
Iniciativa da Fundação Boticário convida chefs de cozinha a criarem pratos com princípios que unem alta gastronomia e conservação da natureza. Há restaurantes participantes em que parte do valor dos pratos é revertida para as ações de conservação da natureza da Fundação. (http://www.gastronomiaresponsavel.com.br/)
Instituto Atá
Formado por um grupo de profissionais, capitaneado pelo chefe Alex Atala, desenvolve ações com intenções claras em aliar comida com respeito à sociobiodiversidade.
Lembre-se: você é o que você come, o mundo se transforma conforme o que a gente come e consome. Ou seja, nós somos o agente de mudança para um mundo mais justo, sustentável e saboroso!