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Onde vão parar os índios do Brasil?

Por 12 de maio de 2017junho 6th, 2017Projetos, Turismo

Quem nunca usou a expressão “programa de índio” para se referir a quando “entrou numa furada”? E quem nunca ouviu dizer que os índios não trabalham e são preguiçosos?

Seja na literatura, seja na nossa (des)educação formal ou seja pela mídia, estamos recebendo a todo tempo informações preconceituosas em relação aos povos indígenas brasileiros. Um exemplo lamentável foi um vídeo recente veiculado por uma afiliada Rede Record. A gravação mostra um posicionamento que, infelizmente, é compartilhado por muitos no Brasil. É a visão do índio atual como ilegítimo e um entrave ao desenvolvimento.

Não há que culpá-los! O que é insinuado nas sutilezas como as propagandas do “agro é pop” até a nada sutil escassa representação dos indígenas nos 3 poderes e outros setores, é que o índio não tem valor. Tem valor só quem produz e quem consome. Qual o interesse dos grandes empresários e dos ruralistas que governam nosso país? Por que manter terras potencialmente produtivas ocupadas por pessoas que não geram lucro?

E é desse desinteresse que vemos emergir o desmantelamento da FUNAI e das políticas públicas indígenas…

Na última sexta-feira, dia 5, o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Antônio Costa, foi exonerado pelo governo federal. Para Costa, esse é um reflexo de uma ditadura que está para se instaurar no país e começa pela instituição. Abaixo, alguns trechos de uma entrevista dele durante uma coletiva de imprensa, logo depois do ocorrido.

“O povo brasileiro está anestesiado. Nós estamos prestes a presenciar nesse país uma ditadura que a Funai já está vivendo. Uma ditadura que não permite o presidente da Funai executar as políticas constitucionais. Isso é muito grave! O povo brasileiro precisa acordar”, diz.

O afastamento vem na esteira de um ataque de fazendeiros contra indígenas da etnia Gamela, no Maranhão. Por isso, o ex-presidente tem uma visão bem pessimista (e infelizmente, acredito eu, realista) de um futuro que estamos prestes a viver.

“A situação do indígena brasileiro com essa atual política e com esse atual desenrolar do Ministério da Justiça será de dias difíceis. E eu acredito que se não houver o despertamento do povo brasileiro para acordar diante do momento político que nós estamos passando, esse país vai passar por momentos difíceis, porque os índios jamais arredarão de deixar os seus direitos defendidos. E eu estarei em linha de frente defendendo esses direitos”, comentou ainda durante a entrevista.

Ainda bem que existem iniciativas na contramão dessa tendência. É o caso da campanha #MenosPreconceitoMaisIndio do Instituto SocioAmbiental (ISA). O vídeo incrível abaixo é sobre a urgência da demarcação das terras indígenas. Ele foi gravado por vários artistas ressaltando a diversidade, a beleza e a importância dos representantes que nos restaram.

 

 

Os índios e o turismo no Brasil

A cultura indígena é tão fascinante que muitas pessoas, principalmente estrangeiros (dados os preconceitos dos brasileiros que já mencionei), querem conhecer de perto tribos brasileiras. O turismo, desde que programado de forma responsável respeitando a cultura e as decisões dos indígenas, pode ser uma forma de geração de renda em consonância com a preservação ambiental e a valorização da cultura.

Ao contrário do que muitos pregam, não acredito que contato com turistas cause “aculturação” – se é que esse termo faz algum sentido dada a impermanência e mutação constante de toda cultura. Sobretudo porque o turismo étnico é pautado pela valorização da cultura – um estimulo à sua preservação. A invasão das terras indígenas pelo agronegócio, por outro lado, coloca todo modo de vida em risco.

Apesar da visitação em terras indígenas não ser uma novidade nem uma atividade recente, o decreto que finalmente regulamenta as atividades só foi publicado em 2015 pela Funai. Com isso, muitas tribos ainda buscam se adequar e criar seus planos de visitação com orientação da Funai e apoio/assistência de ONGs e negócios sociais como a Raízes. Mas agora, frente ao novo momento político da instituição, só nos resta acompanhar como esses trabalhos terão (ou não) prosseguimento.

O Dia do índio foi recentemente comemorado – data celebrada em 19 de abril no Brasil. Mas tal qual as mulheres negaram as flores e pediram RESPEITO e IGUALDADE no Dia Internacional da Mulher, acho que é hora de celebrarmos os índios com um real reconhecimento de sua importância e a demarcação de suas terras. Já. Ou melhor, para ontem!

 

Foto: Mário Vilela/Funai

 

Por Mariana Madureira