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Empreendedorismo social: para onde caminham os negócios no Brasil

Por 19 de abril de 2017junho 6th, 2017Artigos

Essa semana me deparei com duas notícias estarrecedoras. Estarrecedoras não por serem novidade – já que seguem modelos já criados –, mas por envolveram grandes empresas e o governo brasileiro de uma forma positiva! Pode ser síndrome de vira-lata, pode ser desânimo por contaminação da nossa crise política/financeira/ética. Mas fato é que não esperava essas notícias por agora.

Uma delas veio da Ambev, que criou uma marca de água, a AMA, cujo lucro (100%) é revertido para ajudar a solucionar problemas relacionados ao abastecimento de água nas regiões mais áridas do país (veja notícia aqui). Muitos dirão que é só uma jogada de marketing. Mas mesmo isso mostra que os tempos são outros e nós consumidores estamos mais exigentes.

A gente não compra mais produtos das empresas que tem marcas e embalagens bonitas. A gente quer comprar de empresas do bem. De empresas que entregam valor para a sociedade junto aos seus produtos. Já existem estudos sobre isso e até um termo cunhado para descrevê-lo: “marketing 3.0” – centrado não mais no produto ou no cliente, mas no ser humano.

Um grupo de empresas nesse mesmo espírito se autodenominam “melhores para o mundo” e não mais “as melhores do mundo”. Trata-se do Sistema B, rede da qual a Raízes Desenvolvimento Sustentável faz parte há três anos e tivemos o prazer de ver expandir dos pequenos negócios criados por inovadores e ativistas (há quem nos chamam de “abraçadores de árvore” – aceito também ????) para grandes empresas de setores mais tradicionais, como foi o caso da Natura – primeira empresa de capital aberto a se certificar – e brasileira!

 

Empreendedorismo social e Brasil: tudo a ver!

Muhammad Yunus disse muitas vezes que via no Brasil um potencial imenso para o empreendedorismo social. Provavelmente pela nossa flexibilidade, criatividade e empreendedorismo natos. Quem já não teve a experiência ou conhece muito de perto empresários formais, mas também pessoas que empreendem vendendo sua empada na faculdade, água no sinal ou aquele serviço que todos da vizinhança já reconhecem?

No Brasil, o empreendedorismo social tem crescido bastante nos últimos anos, graças ao incentivo de todo um ecossistema. Essa forma de empreender, que coloca no mesmo patamar o lucro financeiro e os ganhos sociais (e por isso ganhou o apelido de setor 2,5), foi chamando a atenção das universidades, mídia e recentemente governos.

[Reveja nosso “Cafezim com a Raízes” sobre o tema!]

 

“Social” para além dos negócios

Somos uma sociedade em rede e essa rede tem se tornado cada dia mais complexa e emaranhada. O papel de cada ator nos contextos atuais é fluido e em permanente transformação. Há quem critique os negócios sociais por acreditar que melhorar a qualidade de vida das pessoas é um dever do governo e das ONGs.

Eu acredito que melhorar o mundo é um dever individual de cada ser e um desafio de todos nós. Pessoas físicas e jurídicas. Em todos os papéis.

Estamos desacreditados dos políticos no Brasil (ah, antes que o texto chegue ao fim, Fora Temer!). Mas não podemos desacreditar da política. Políticas públicas humanas e uma gestão eficiente e transparente são bases de sociedades que alcançaram altos níveis de qualidade de vida. Me refiro sobretudo aos países nórdicos que tem muito a nos ensinar.

 

Queremos transformação positiva!

Aqui entra a segunda notícia recente: Dória, atual prefeito de São Paulo, cria um projeto em parceria com a Kibon (Unilever) que emprega moradores de rua como sorveteiros na capital paulista (confira aqui). Essa notícia me lembrou muito a parceria de Yunus com a Danone para criar iogurtes em Bangladesh que são distribuídos por mendigos (veja o próprio Yunus contando essa história aqui).

E, apesar de todas as críticas a Dória e seu governo (que realmente não vem ao caso debater aqui) e do fato de que isso obviamente não vai solucionar todos os problemas dos moradores de rua que são muito mais complexos (recomendo essa incrível reflexão de Vitor Brumatti sobre o tema), essa atitude reforça que estamos adentrando uma nova era na forma de fazer negócios e política no Brasil. Tomara que seja só o início de uma onda de transformação positiva!

Mudanças sempre geram um certo receio. Fato. Mas alguém duvida que o modelo político e econômico tradicional do Brasil já não funciona?

Por: Mariana Madureira

Reprodução: Yunus Negócios Sociais